Ousar humanidade
“Nunca tive festa de aniversário”, disse ontem no CSE um jovem durante a celebração de seu 18º aniversário, juntamente com o 17º aniversário de outro adolescente. As unidades permitem às famílias comemorar esta datar, mas quem não tem visita fica prejudicado. Foi um momento muito forte que os dois quiseram festejar com seu colegas de quarto. Não foi fácil conseguir a autorização para reunir os dois grupos no refeitório , mas, depois de muita negociação, conseguimos a autorização. Desde já agradecemos os agentes e a direção. Ser celebrado no dia do aniversário faz bem. É ser reconhecido. É saber que a própria vida conta para alguém. Tem valor demasiado, sobretudo para quem conhece a dura realidade do desprezo e do descaso. Deveria fazer parte do Abecedário da socioeducação, juntamente com todos os outros gestos e falas que cheiram a cuidado e emanam humanidade. Durante o momento de oração, todos falaram. Além de parabenizar os aniversariantes, todos compartilharam sonhos e esperanças. São momentos preciosos em que sai a melhor parte de cada um deles. Pena que nem todo mundo está disposto a ouvi-la achando que ela já não existe mais ou pior ainda, que nunca existiu. Tudo aconteceu na maior tranquilidade à revelia de quem achava que não ia dar certo. Oremos por estes jovens para que encontrem em si e nos outros a força para realizar seus desejos. Mas, sobretudo, oremos pelo sistema para que ouse mais humanidade nos detalhes que fazem a diferença, a começar pelo olhar que, se continuar a desprezar e enxergar “desgraças”, “misérias” e “inimigos perigosos” frustrará, ao nascer, qualquer esforço de resignificação da vida. Parafraseando Rubem Alves ouso dizer que o olhar do socioeducador é mais importante que os planos pedagógicos. O olhar tem o poder de despertar ou, pelo contrário, de intimidar a inteligência, o cuidado e a humanidade. O olhar tem um poder mágico! O olhar de um socioeducador tem o poder de fazer o melhor de um adolescente florescer ou murchar. Não se trata de ser ingênuo nem tampouco de potencializar os riscos para se vitimizar, mas de apostar no cuidado e na garantia dos direitos como as únicas maneiras efetivas para garantir segurança e pacífica convivência. No dia que entendermos isso descobriremos quantas energias e recursos jogamos fora para enxugar gelo em matéria de segurança.
(pe. Xavier, Pastoral do Menor)