P. Ezequiel Ramin: Evangelho do Amor vs terra e carne de gado
A XI Romaria da terra e das águas e a III Romaria do P. Ezequiel Ramin, a realizar no próximo dia 22 de Julho em Rondolândia, MT, é uma realização intensa de engajamento e defesa dos direitos dos pobres, em especial dos indígenas.
Tema da Romaria: Com os pobres pela Terra, Água, Justiça e Paz
Nascido na Itália, em 1953, Ezequiel Ramin aprendeu desde cedo a viver a fé com autenticidade e engajamento. Estudou, cresceu e viveu sua juventude sonhando com soluções para alguns problemas dos países mais pobres. Não se contentou com teorias mas se envolveu diretamente no movimento “Mãos estendidas”, até assumir a liderança. A maneira de ser de Ezequiel associava grande sensibilidade pelos pobres junto a uma personalidade forte. Sentia que Deus o chamava a ir em missão além fronteiras, e por isso, decidiu ser missionário. Pouco a pouco amadureceu sua vocação missionária.
Em 1984, chegou para ele a oportunidade de viver esse sonho missionário. Com 31 anos de idade, o Pe. Ezequiel foi enviado para o Brasil. Ao chegar em Cacoal, no meio do ano de 1984, Pe. Ezequiel abraçou com garra e espírito de comunhão o projeto eclesial da diocese de Ji-Paraná e o trabalho pastoral realizado na paróquia de Cacoal pelos Combonianos.
Colocou-se corajosamente em defesa dos indígenas e dos agricultores pobres, na luta pelo direito à terra e à vida digna. Fez causa comum com os pobres da Amazônia. Compreendeu que ser missionário era servir aos que mais sofriam: “O meu trabalho aqui é de anúncio e denúncia.”
Em uma de suas últimas homilias declarou: “O padre que está lhes falando recebeu ameaças de morte. Querido irmão, se a minha vida lhe pertence, também lhe pertence minha morte”.
Mas se quisermos encontrar a verdadeira razão para sua atuação como missionário e sua entrega, aqui a temos em primeira pessoa: “Libertemos as pessoas da fome, das doenças, façamos delas pessoas livres, testemunhando deste modo o Cristo que está dentro de nós. A este ponto, amigos, se não fizermos parte da solução, faremos parte do problema. Pensem nisso e façam as contas!”
O Pe. Ezequiel nos deixa o legado de que ser cristãos de verdade significa nos comprometer pela libertação do mal estrutural, pessoas que morrem de fome, enquanto alguns poucos concentram a maior parte da riqueza do mundo, sem saber como gastar tanto dinheiro, conseguido por meios (no mínimo) duvidosos: exploração das pessoas, manipulação da economia, corrupção, destruição da natureza, etc.
Seu testemunho remete ao modelo de Igreja profética e missionária, intensamente vivido no Brasil, em especial entre os anos 70 e 90. É um exemplo concreto da vivência radical da opção pelos pobres, que foi assumida pela Igreja latino-americana à luz do Concílio Vaticano II, nas Conferências de Medellín (1968), Puebla (1979), Aparecida (2007); e posteriormente, compreendida como um valor próprio do seguimento de Jesus, tal como falou o Papa Bento XVI: “A opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8,9)”.
Contemplar a vida e a morte do Pe. Ezequiel é nos deixar tocar pelo testemunho deste jovem missionário que nos ensina que evangelizar tem o seu preço. Sua vida entregue até o derramamento de sangue nos mostra que evangelizar supõe amar sem condições e colocar o bem do outro acima do seu próprio bem. Não há evangelização sem amor e não há amor se não há a paixão de ir até o fim, até o dom da própria vida, caso se faça necessário. Enfim, conhecer mais de perto a sua vida, como também o testemunho de tantas outras pessoas que doaram a vida pelo irmão, nos ajuda a compreender um pouco melhor o primeiro e maior de todos os mártires: Jesus.
Camiseta usada pelo Pe. Ezequiel no momento de sua morte
Baixe aqui o pdf do livro dos Escritos do Pe. Ezequiel