
Para fora
“A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua colheita” (Mt 9,37-38)
À primeira vista, essa frase de Jesus parece esquisita. Se Deus sabe da urgência do anúncio do Evangelho, que necessidade há de nós pedirmos isso para Ele? Sendo o dono da messe, que mande logo os operários necessários para a colheita. Na realidade, a oração que Jesus sugere não serve para mudar a cabeça de Deus, mas a nossa. A palavra “mandar” traduz o verbo grego “ekballein” que literalmente significa “empurrar para fora com força”. É o mesmo que a Bíblia traduzida em grego utiliza quando narra a expulsão de Adão do Paraíso (Gn 3,24). Em outras palavras Jesus convida a orar para que Deus consiga nos arrancar de nossa preguiça e nos “expulsar” de nossas acomodações para arregaçar as mangas e trabalhar de verdade na construção do Seu Reino. Tem muitos batizados encalhados, receosos de velejar para águas mais profundas. Tem muitos cristãos entocados, com medo de encarar o mundo como discípulos de Jesus, com vergonha de anunciar o Evangelho e constrangidos na hora de fazer escolhas conforme os valores do Reino de Deus. Tem muitos fiéis que preferem o aconchego de uma religiosidade intimista e alienante que busca o “conforto de um deus consolador” no lugar de se confrontar com o Deus de Jesus Cristo que nos desafia o tempo todo a sair de nós mesmos e de nossas estruturas para viver em sintonia com Seu projeto e anunciá-lo com nosso ousado testemunho.
Como diz a Regra de São Bento, cuja memória celebramos hoje, “Levantemo-nos então finalmente, pois a Escritura nos desperta dizendo: “Já é hora de nos levantarmos do sono”. E, com os olhos abertos para a luz deífica, ouçamos, ouvidos atentos, o que nos adverte a voz divina que clama todos os dias: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não permitais que se endureçam vossos corações”, e de novo: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. E que diz? – “Vinde, meus filhos, ouvi-me, eu vos ensinarei o temor do Senhor. Correi enquanto tiverdes a luz da vida, para que as trevas da morte não vos envolvam”
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)