Parabéns Maria!
Tempos atrás vi um artista de rua montando um belíssimo mosaico. Não usava pedras preciosas, mas pedaços de vidro e restos de cerâmica. Sua matéria prima era material descartado, mas o resultado era uma obra prima. Foi essa a primeira imagem que saltou aos olhos da minha memória hoje, ao ler o trecho do Evangelho que fala da genealogia de Jesus (Mt 1,1-17). É uma página difícil de se ler e chata de se ouvir. É uma lista de nomes não muito invejável. Tem de tudo. Tem gente boa, mas também pessoas pouco edificantes que fizeram coisas que não prestam. Se puxássemos a “capivara” de cada uma delas, encontraríamos até crimes hediondos. Eu teria tirado da lista para não passar vergonha. No nosso curriculum vitae fazemos questão de omitir antepassados e antecedentes que podem macular nossa biografia. Mas, o Evangelho faz questão de citá-los. Apesar das sombras do passado, Jesus não renega suas origens. Ele faz parte dessa história. É sobre ela que constrói a sua. É nela que toma corpo. O Messias se insere na complexa história humana do povo de Israel e vem apesar da fragilidade dos protagonistas dessa história. Deus tem uma habilidade enorme de escrever reto em linhas tortas. Faz brotar flores pelas brechas do cimento. Faz sua obra prima até dos “destroçados”. E para dar um golpe final a qualquer lógica de normalidade, dirige seu olhar sobre Maria e José, dois invisíveis e humildes adolescentes da periferia. É com eles que vai se aliar para dar início à Nova História.
Deus acredita na humanidade. Sua confiança inabalável no ser humano o leva a apostar em qualquer pessoa, até em nós que, com certeza, não somos melhores do que os outros. Portanto, não descartemos ninguém, pois Deus é capaz de fazer grandes coisas com aqueles e aquelas em que menos esperamos. Igualmente, não desesperemos de nossas misérias e dos nossos erros, mas esperemos com confiança em sua Graça. Torcemos para que, do que sobra de nossas fraquezas, Ele consiga montar um mosaico bonito de se ver, pois reflete a luz do Alto e transmite amor, paz e justiça a todas as pessoas que têm a oportunidade de admirá-lo. A trama dos eventos da vida, por vezes desarmônicos e contraditórios, nunca representa um impedimento definitivo para Deus realizar seu plano de salvação para a humanidade. “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28).
Obrigado a Deus por ter desejado que Maria fizesse parte dessa história e obrigado a Maria por ter aceitado o convite e dado à luz Jesus. Não nos afastemos dela. Não tenhamos medo de recebê-la como nossa Mãe, irmã de caminhada e modelo de discipulado. Pegá-la conosco significa, antes de qualquer coisa, imitá-la, a começar pela sua pequenez, pois é por este caminho que Deus entra na história. Nossas fantasias religiosas sempre associaram Deus à grandeza, mas Ele sempre foi fascinado pela pequenez ao ponto de esvaziar-se de si mesmo para se fazer homem como nós. “Nada do Altíssimo pode ser conhecido senão através do Infinitamente Pequeno, através deste Deus à altura de uma criança, este Deus que cai ao chão na tentativa de dar seus primeiros passos…” (C. Bobin). Parabéns a Maria pelo seu aniversário.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)