PÁSCOA: é Proibido parar!
“Não me segures!… Mas vai a meus irmãos…” (Jo 20,17). São estas as primeiras palavras que o Ressuscitado dirige a Maria Madalena, depois de tê-la chamada carinhosamente pelo nome. O significado principal da Páscoa está tudo concentrado nelas. Páscoa é passagem, movimento, caminho… É proibido estacionar no Calvário, andar pelo cemitério à procura de Jesus entre os mortos, sentar-se aos pés do túmulo, derramar lágrimas de desespero, trincheirar-se no medo ou enrolar-se na sensação de fracasso. Páscoa é levantar-se e pôr-se a caminho nos rastros de Jesus de Nazaré, pois Sua Ressureição abre a cortina do horizonte e nos mostra que o Reino que anunciou é uma realidade concreta que motiva a nossa caminhada. As narrações do evento pascal são marcadas pela movimentação, pela correria. Quase todas as aparições do Ressuscitado acontecem caminhando, ou pedem às testemunhas de se colocarem a caminho. Quem parar por achar que tudo está perdido faz o jogo do “inimigo”. Desanimar para induzir a desistir é sua principal artimanha. A rendição e a resignação não têm nada a ver com a ousadia e a coragem que brotam do Evangelho. No caminho da vida, ainda pior do que voltar atrás é decidir de parar. Deter-se significa render-se, resignar-se, renunciar à luta e, pior ainda, desistir de viver. A Páscoa, ao contrário, é um convite a caminhar, a viver e fazer viver em plenitude. Pode até ser a pequenos passos. Cada qual caminhe conforme seu ritmo. Na caminhada o mais importante não é o ritmo da nossa andança, mas a escolha do caminho certo. Jesus é a Via. O importante é andar nas Suas pegadas, sem prendê-Lo aos nossos esquemas mentais, sem adaptá-Lo aos nossos gostos, sem manipulá-Lo conforme nossos interesses e sem abrandar a força profética da sua mensagem, custe o que custar. Maria Madalena entende logo a mensagem. Sem pensar duas vezes, mesmo correndo o risco de ser chamada de louca visionária, põe-se a correr para contar aos discípulos o que viu. Pouco se importa se é ainda noite e se os “soldados do império” estão por todo lado. Desafia o sistema que impõe a morte a quem ousa desafiá-lo. A energia de seu passo vem do amor que nutre por Jesus. Por amor, ela não desiste nunca, pois o amor não morre e nem faz morrer. Mantem obstinadamente em vida, mesmo quando a morte faz de tudo para acabar com tudo. Enquanto todos vão embora, ela fica e continua procurando pelo Mestre. Mesmo derramando lágrimas de desespero, não fixa os olhos nas aparências do fracasso, mas “inclina o olhar para dentro do túmulo” para enxergar sinais de vida para além da dura realidade da morte. Graças à sua atitude contemplativa, desce em profundidade e consegue ver aquilo que os outros olhos não conseguem enxergar. Sua paixão por Jesus e pelo Seu Evangelho sustenta sua fé e anima sua caminhada, pois a Sua Páscoa confirma o que já anunciava o profeta Jeremias: “Eu lhes transformarei o luto em regozijo, os consolarei após o sofrimento e os alegrarei” (Jer 31,13).
Coragem, portanto, não nos seguremos e não nos deixemos prender à resignação, à sensação de fracasso, à impotência e ao desespero. Continuemos caminhando e lutando, pois à nossa frente anda o Ressuscitado que aponta para nós um futuro de Vida plena que é real e está ao alcance daqueles e daquelas que estão a fim de alcançá-lo.
Obrigado, Maria Madalena, porque, com a tua louca corrida de amor, nos levaste do Calvário da crucificação para o sepulcro vazio da Ressurreição. Somos gratos a ti porque nos fizeste entender que o Calvário é um lugar de passagem e a cruz uma etapa provisória (Tonino Bello). Nosso destino é a Vida em plenitude que vem do Ressuscitado. Com a tua ousadia, nos arrancaste do caminho escuro da ida e nos trouxeste de volta pelo caminho luminoso da alegria. Contagia-nos com teu entusiasmo, para que também nós, nestes tempos sombrios de trevas, incertezas, medos e dores, possamos indicar, através do nosso amor e da nossa solidariedade, o caminho da alegria da ressurreição para aqueles/as que se sentem abandonados/as, para as pessoas que estão desesperadas e não tem força para reagir, que têm dificuldade em libertar-se da depressão, vivem esmagados/as sob o peso da dor, têm seus direitos violados e sofrem todo tipo de marginalização, aos/às que pagam o duro preço da guerra, às vítimas da violência, aos/às que perderam tudo e foram atingidos/as pelo luto.
Não há morte para aqueles/as que decidem amar até às últimas consequências como Jesus nos ama. Aqueles/as que amam não perdem nada, nem mesmo suas vidas. Pelo contrário, a encontram em plenitude. A alegria da Ressurreição chegue a todos/as vocês. Feliz Páscoa.
(pe. Xavier Paolillo, Comboniano missionário)