Primeiro Encontro dos Bispos em situação de Guerra na África
Em Accra, capital de Gana, primeiro país a se tornar independente na África, em 1957, ocorre de 7 a 11 de março, uma reunião histórica e de grande importância: O Encontro Continental dos Bispos em situação de guerra.
O evento foi idealizado por Dom Luiz Fernando Lisboa, à época bispo de Pemba em Cabo Delgado, norte de Moçambique. O prelado lidou com as duras consequências da guerra que assolava o território e com a situação de um milhão e meio de pessoas deslocadas, dentre as quais muitas vítimas de violações, de modo especial mulheres e crianças.
Mesmo não sendo mais bispo na África e atualmente ser bispo na Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo – Brasil, o religioso foi convidado para o evento. Isso ocorreu em consideração ao fato de há dois anos ter tomado a iniciativa de pedir a realização deste encontro.
Para o prelado, a guerra em cabo Delgado que recrudesceu fortemente esse ano, é uma situação multifatorial e por conta disso, sentiu que seria importante que houvesse um momento em que todos os bispos em África atingidos por guerras pudessem se encontrar, buscando juntos caminhos para os desafios mais complexos e lembrar que “nenhum deles está sozinho”.
Esta reunião nos faz lembrar lutas de outros tempos em favor dos africanos, como as denúncias e ações de Comboni que lutou tanto contra a escravidão, no contexto do avanço do colonialismo no continente no século XIX. “Regenerar a África pela África” era urgente.
O fato é que diversas dioceses em África neste exato momento vivenciam deslocamentos de populações forçadas a deixar suas terras, ficando reféns da fome e da completa insegurança. Religiosos, missionários e as comunidades precisam sair em fuga para o mato, devido aos ataques arrasadores. É uma Igreja que sofre e que leva consigo somente a roupa do corpo, ninguém se salva, nem mesmo idosos e crianças.
Comoventes são os relatos de diversos religiosos que entram nas capelas para buscarem as hóstias, objetos sagrados que conseguem carregar e fogem junto com a população. O seu objetivo é de não serem violados nem no sagrado e nem naquilo que é mais caro, a própria vida.
Diante disso, esse encontro se colocou como uma necessidade e com apoio da Santa Sé acaba de iniciar. Que nós todos possamos estar atentos às vozes dos bispos e da Igreja na África que em muitos contextos é prófuga, como foi um dia a Família Sagrada de Nazaré, refugiada no Egito, por se encontrar em perseguição.
Por Patricia Teixeira Santos,
Professora de História da África da Universidade Federal de São Paulo.