Que Mensagem de Esperança e de Resistência vem dos povos originários e de sua aliança com a Mãe Terra?
Por Márcia Wayna Kambeba
A beleza das águas profundas, a intensidade da Pachamama. O cacique político chefe, o guia espiritual da cidade são elementos importantes na vida da cidade e em sua jornada.
A mudança climática tem sido o tema mais discutido no FOSPA. A Amazônia é violada todos os dias. Ela é uma mulher curvada por tanto peso nos ombros: séculos de injustiça, destruição e morte. Como cristãos, devemos clamar por um despertar ecológico, devemos lutar para uma ecologia integral. O bem viver tem que ser agora.
Os indígenas são submetidos à violência e ameaças de morte. Isso porque o capitalismo tomou o lugar de Deus.
A água é um elemento central na reprodução material e simbólica dos povos indígenas. Tomar banho no rio é uma relação amorosa onde aprendemos a confiar. O rio encanta, é o avô que carrega as histórias.
A relação que os povos indígenas têm com a natureza é muito parecida com a relação que São Francisco tinha com a criação.
Tudo é criação de Deus
Não podemos esquecer que na Amazônia, 57% do bioma foi devastado nos últimos 50 anos.
Na casa comum tudo está conectado. Vivemos uma relação de cooperação com a natureza. Na aldeia, a presença do guia espiritual é fundamental. Ver a destruição da floresta é uma ferida muito grande no coração das pessoas que precisa ser curada.
Devemos aprender a conviver e saber respeitar o sagrado de cada cultura.
Os povos indígenas em sua relação com o sagrado buscam a cura, uma relação cotidiana de cura.
Os muitos nomes de Deus que não o limitam. Deus é uma luz radiante. Muitas religiões entraram e continuam entrando em territórios indígenas com a intenção de destruir e aniquilar. É urgente a tarefa de resgatar os símbolos sagrados.
Cristianismo e Povos Indígenas
A relação entre os povos indígenas e o cristianismo não tem sido boa. O cristianismo não respeitou o “sagrado” do povo.
Deus está nas pequenas coisas assim como nas grandes. Deus é imensidão, ele é para todos.
O alvo é o outro antropológico, tanto como ameaça quanto como oportunidade de encontro. Muitos, com grande sacrifício, deixaram a comunidade para estudar. Quando partem, carregam todo o conhecimento de sua terra original. A cidade se apropria desse conhecimento sem compartilhá-lo. No modo de pensar do indígena, o conhecimento é útil se for colocado a serviço do bem comum, se com ele forem construídas práticas contra o extermínio da memória.
Mulheres ao Centro
As mulheres cuidam da relação com a cura e com o sagrado porque a terra é feminina. Não só educam, mas também curam feridas e nisso se assemelham ao guia espiritual.
As mulheres se organizam em coletivos de cura. Não esqueçam que na cultura indígena as mulheres têm um papel muito importante.
Com o povo afro existe uma relação de irmãos e irmãs. Eles estão unidos e unidos porque experimentam o mesmo sofrimento e a mesma resistência. Defendem o território como memorial e ao mesmo tempo como algo sagrado. Entre esses dois povos há fraternidade, luta e resistência. A relação entre corpos e territórios não pode ser separada. É uma união de sangue.
Ilustração: Hal Wildson