Que ninguém toque nesse bispo! Cabo Delgado, Moçambique
A referência do papa Francisco à guerra que atinge o povo e a diocese de Cabo Delgado no domingo de Páscoa, durante a bênção ‘urbi et orbi’, foi retomada pelo recente telefonema do papa ao bispo, Luís Fernando Lisboa, ameaçado de morte pelo presidente Nyusi. Nos unimos ao sofrimento das centenas de milhares de refugiados, em fuga daquela província, ao longo dos últimos 3 anos…
Luís Fernando Lisboa, bispo da diocese de Pemba, na província de Cabo Delgado, norte de
Moçambique (Crédito: Zenit)
Luís Fernando Lisboa, bispo da diocese de Pemba, na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, está ameaçado de morte. A sua gente vive num cenário de guerra desde outubro de 2017, quando grupos de jihadistas armados começaram a invadir a região, riquíssima em gás natural e petróleo, provocando o deslocamento de mais de 250.000 moradores e mais de mil mortes, até agora. Luís sempre denunciou esta situação de guerra e os interesses em jogo. Entrevistado por Nigrizia em junho passado, ele explicou assim a intervenção da Igreja: “Começámos a agir desde os primeiros ataques. Em primeiro lugar, procurando ser uma voz que fala e que leva ao conhecimento dos moçambicanos e do mundo o que está acontecendo aqui. Desde o início houve certa pressão para que não se falasse de Cabo Delgado. Alguns jornalistas, por exemplo, foram presos. A igreja, ao contrário, sempre procurou falar: ela deve ser como um alto-falante para quem não tem a possibilidade ou não tem a coragem de falar. Mas não é só isto. A igreja, por meio da Cáritas diocesana, está ajudando a população, especialmente os deslocados, com alimentos, roupas, remédios, água e tendas. Além disso, durante todo este tempo, os missionários permaneceram nas zonas de conflito enquanto puderam. Foram os últimos a sair”.
Precisamente como consequência da sua denúncia profética, o bispo é considerado um personagem incômodo por aqueles que têm interesses a defender na região. Nas últimas semanas, foi caluniado nos jornais e ameaçado nas redes sociais. Mas a situação precipitou-se quando, em 15 de agosto, o presidente da república Filipe Nyusi, em visita à região, criticou a atitude de alguns moçambicanos e de certos estrangeiros que teriam desrespeitado as forças de defesa de Moçambique: “Causam-me desgosto os moçambicanos que não levam a sério os sofrimentos de quem os protege, incluindo alguns estrangeiros que escolheram livremente viver em Moçambique mas que, em nome dos direitos humanos, não respeitam o sacrifício dos que dão valor a esta jovem pátria, e dão segurança à sua estadia em Cabo Delgado e em Moçambique de um modo geral”. Estas palavras desencadearam a revolta contra o bispo, de origem brasileira, considerado o principal alvo das críticas presidenciais devido à sua postura crítica em relação ao governo, mas também um rio de solidariedade de muitíssimas pessoas, de vários grupos da sociedade civil e de associações e religiosas que redigiram um documento-petição dirigido ao governo moçambicano, no qual pedem diálogo, respeito à liberdade de expressão dos cidadãos, tanto nacionais como estrangeiros, e a responsabilidade penal para os que, nas redes sociais, incitam à violência, ameaçando o integridade física do bispo.
Tomas Vieira Mario, jornalista moçambicano apresenta uma leitura resultante da experiência de décadas de trabalho profissional, nem sempre fácil. Acesse aqui e ajude a divulgar também você. Juntos somos mais e fazemos a diferença, em favor daquele povo martirizado.
Artigo original em Nigrizia.it
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