“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”
“Eis que eu criarei novos céus e nova terra, coisas passadas serão esquecidas, não voltarão mais à memória. Ao contrário, haverá alegria e exultação sem fim, em razão das coisas que eu vou criar; farei de Jerusalém a cidade da exultação e um povo cheio de alegria. Eu também exulto com Jerusalém e alegro-me com o meu povo; ali nunca mais se ouvirá a voz do pranto e o grito de dor. Ali não haverá crianças condenadas a poucos dias de vida nem anciãos que não completem seus dias. Será considerado jovem quem morrer aos cem anos; e quem não alcançar cem anos passará por maldito. Construirão casas para nelas morar, plantarão vinhas para comer seus frutos”.
Hoje foi acordado com esta Palavra de esperança. É bom receber uma injeção de ânimo logo no início de uma nova semana. O texto é do profeta Isaias (65,17-21). É dirigido ao povo de Israel que, após ter encarado a amarga experiência do exílio, é surpreendido com a promessa de uma grande novidade. Não se trata de uma simples obra de restauração, mas de uma reviravolta radical que envolve toda a criação. Deus vai zerar o passado e vai começar tudo de novo. Vai criar novos céus e nova terra onde não se ouvirá mais a voz do pranto e o grito da dor. Oxalá!!!. Deus queira mesmo fazer isso logo, pois é nosso sonho de consumo. Ninguém mais aguenta tanto sofrimento. O bom da mensagem é que não se limita ao povo de Israel, mas se estende a toda a humanidade. Diz respeito também a nos que vivemos no “exílio”, longe do projeto de Deus, despojados/as da dignidade que nos foi dada em dom e nos pertence de direito, com saudade da “pátria” perdida. Mas para que a novidade de Deus aconteça, é necessário que façamos a nossa parte. Não adianta ficar de braços cruzados aguardando a intervenção milagrosa de Deus ou se sentar na beira da calçada lamentando porque Deus não faz logo. Ele já deu o primeiro passo. Deu início à nova história e à nova humanidade com Jesus de Nazaré. O seu Evangelho contém todas as instruções necessárias para criar o mundo novo. Com Ele, a história conhece o ponto de viragem decisivo e determinante, mas sempre marcado pelo envolvimento humano, cuja liberdade Deus respeita em primeiro lugar. Esses novos céus e nova terra não devem ser projetados em um futuro indeterminado, quando a realidade cósmica presente chegará ao seu fim natural. O acontecimento pascal da morte-ressurreição já marcou o início. A morte não tem a última palavra. Esta pertence à Vida do Eterno que é feita de amor até à últimas consequências. Por isso não morre nunca. Deus colocou este grande capital em nossas mãos para que o façamos frutificar tanto na vida pessoal quanto na vida comunitária. Hoje cabe a nós arregaçar as mangas para que, a partir dos escombros de uma sociedade que mostra todos os sinais de decadência, a novidade possa fazer o seu caminho, assim como uma frágil planta racha o asfalto para gritar o triunfo da vida. Para o cristão não há lugar para a tristeza e o desânimo: a vida venceu a morte. A luz derrotou as trevas. A história caminha inexorável e incansavelmente rumo à plenitude do céu e da terra, pois o fim da história, entendido não como término, mas como finalidade, é a Nova Jerusalém, cuja pedra fundamental já foi posta por Cristo. A escuridão da hora presente não deve fazer-nos esquecer esta certeza consoladora, mas deve tornar-nos mais empenhados/as em acelerar a manifestação desta alegre novidade. É esse o compromisso que hoje somos chamados/as a assumir. Arregacemos as mangas e trabalhemos com esperança. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Sabem qual é uma das coisas que mais me convence a continuar? É quando olho para trás e, revisitando a trajetória de nossas lutas e militâncias, vejo quantas coisas conseguimos conquistar mesmo sendo poucos e frágeis. Tem algo de divino nessas histórias, fruto de uma parceria exitosa com Aquele que não desiste de Seu sonho e faz de tudo para que nós não desistamos.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)