Ramos: Perante Herodes, Jesus não se Vende: Silêncio é Ouro
JESUS NÃO SE VENDE. SEU SILÊNCIO DIANTE DE HERODES VALE OURO!
“Herodes ficou muito contente ao ver Jesus, pois havia muito tempo desejava vê-lo. Já ouvira falar a seu respeito e esperava vê-lo fazer algum milagre. Jesus, porém, nada lhe respondeu” (Lc 23,8).
1. Propostas de Herodes
Diante de Herodes e das suas indecentes propostas, Jesus opta pelo silêncio. Ao contrário, tem pessoas que se acham no direito de responder por Ele. Usurpadores da função de “legítimos porta-vozes de Sua Palavra e representantes legais da Sua missão”, usam e abusam d’Ele para negociar favores de Herodes em troca de Seu apoio político e eleitoral. O perdão de dívidas milionárias com o erário, a isenção de impostos, a concessão de rádio e televisão ou a autorização a ampliar o alcance daquelas já existentes e a disponibilização de cargos em lugares estratégicos do governo para cobrar “dízimo” do dinheiro público são alguns dos milagres que se conseguem mediante Jesus na medida em que é usado para dar apoio a Herodes.
2. Estratégia do poder
A estratégia é muito bem bolada.
2.1. Primeiro passo: Silenciar Jesus
O primeiro passo é silenciar Jesus ou manipular suas falas para que agradem sempre o regime.
2.2. Segundo Passo: “Maquiar” Jesus
O segundo passo é “maquiar” a imagem de Jesus. Para eles, o Cristo espoliado e crucificado passa a ideia de derrota. É melhor insistir nas manifestações de poder e, sobretudo no “Cristo glorioso” para ressaltar a imagem do messias forte e vencedor. Nessa linha, propõem o caminho inverso. Acham que este negócio de desistir das prerrogativas divinas, de descer e assumir a condição de servo não vende. A imagem do Jesus pobre deve ser substituída pelo modelo do “homem/deus todo-poderoso” que manda e desmanda. A teologia da prosperidade e o messianismo são as fontes de inspiração desse “cristianismo”.
2.3. Terceiro passo: Espiritualizar Jesus
O terceiro passo é espiritualizar todas as palavras e os gestos mais polêmicos de Jesus, restringindo sua mensagem à esfera da intimidade acabando com qualquer ingerência na economia, na política e na vida social. A ordem é tirar Jesus das ruas e prendê-lo dentro das sacristias para que não faça danos com suas ideias subversivas. Fica proibido falar de destinação universal dos bens. Basta a beneficência para aliviar o sofrimento dos pobres. Palavras como direito, democracia, equidade, tolerância, cidadania e libertação estão banidas, pois pertencem ao vocabulário comunista. As palavras-chaves são clientelismo e meritocracia. O quarto passo é mudar a mentira em verdade e multiplicá-la para que as multidões comam e bebam tudo aquilo que Herodes fala e se assimilem a ele. O quinto passo é transformar os dedos bendizentes de Jesus em arminha e transformá-Lo em miliciano. O último passo é reduzir a moral de Jesus que tem como ponto de referência o paradigma do cuidado, num moralismo de fachada que em muitos casos visa dar a aparência de “bom moço” a quem de moral entende bem pouco.
3. Fidelidade até o fim
Jesus não quer nada disso. Permanece fiel à missão que o Pai Lhe entregou. A sua paixão é, antes de tudo, paixão de amor. Não existe nenhuma chance de mudança de rumo. Entre Ele e Herodes não há nenhuma possibilidade de acordo. Quando o tirano se dá conta disso, O trata com desprezo, como se fosse uma nulidade (Lc 23,11. Essa é a verdadeira cara de Herodes. Despreza todos aqueles que não se dobram aos seus delírios de poder e os manda matar, mesmo se “inimigo” em questão é o próprio Deus. Qualquer sinal de acordo entre Herodes e Jesus é suspeita. É bom desconfiar. Jesus de Nazaré não se vende e não troca o Evangelho pelos poderes deste mundo.
Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano