
Realizar boas obras é a melhor resposta para quem gosta de jogar pedras (Jo 10,31-42)
Quando acabam os argumentos, entra em cena a violência. Foi assim no tempo de Jesus e é assim também nos nossos dias: Não tendo mais assuntos, “os judeus pegam pedras para apedrejar Jesus”. Mesmo reconhecendo que Suas obras são boas, procuram outra maneira de acusá-lo e matá-lo. Querem condená-lo por blasfêmia, porque, sendo apenas um homem, se apresenta como Deus. O mestre continua percorrendo o caminho do diálogo. Apresenta provas incontestáveis para sustentar suas afirmações. Recorre à Escritura e, sobretudo, ao testemunho de Suas obras para que reconheçam que “o Pai está nele e Ele no Pai”. Mas, a única resposta que Ele recebe é a violência. Quando alguém se sente dono da verdade não reconhece as razões alheias e, para impor as próprias, não se faz escrúpulos de pegar nas armas. A melhor prova de quem está com a Verdade é a capacidade de dialogar sempre e com todos/as. Onde prevalece a incomunicabilidade, devemos ser capazes de oferecer o martírio do diálogo, sempre, mesmo quando parece inútil, mesmo quando parece falhar. Porque no final não importa se o que fizemos e dissemos trouxe o resultado desejado. O Senhor não nos pediu de convencer os/as outros/as, mas de testemunhá-Lo diante dos/as outros/as. Como seria bom se o mundo nos reconhecesse como cristãos precisamente por causa da nossa capacidade de diálogo sem preconceitos e sem arrogância (pe. Luigi Maria Epicopo).
Jesus optou pelo diálogo, mesmo se não surtiu o efeito desejado. Para os Judeus, trancafiados em suas convicções, o que Jesus reivindica é inconcebível e inaceitável. Podem até reconhecê-lo como um profeta, um homem que faz o bem, mas nunca como Deus. Jesus morrerá por causa desta “ambiciosa pretensão”: ele que é homem, se fez Deus, o mais horrível dos crimes para os Judeus.
É louco ou é exatamente quem pretende ser? É Deus ou alguém que se passa por deus? O que incomoda, de verdade: é o fato que Deus se faz homem ou o jeito como Deus se faz homem? Na realidade, o que mais escandaliza os Judeus e nós ainda hoje é a maneira como Deus se apresenta ao mundo em Jesus de Nazaré. A blasfêmia para os seus contemporâneos e para nós hoje não é a encarnação de Deus em si, mas o Seu jeito de encarnar-se e de revelar-se: pequeno, frágil, humilde, misericordioso, amigo dos pobres e pecadores, samaritano… Talvez, se Jesus tivesse chegado como um super-homem, revestido de poderes extraordinários, pronto a realizar prodígios e fazer nossas vontades, teria convencido todo mundo a respeito de sua origem divina. Incomoda um Deus que serve e dá a vida.
A reação dos Judeus é o retrato da bipolaridade humana (Paulo Curtaz). Rejeita-se um Deus que desiste de suas prerrogativas divinas e se faz servo ao mesmo tempo em que os homens aspiram a serem deuses ou se comportam já como deuses, abusando do poder, impondo sua vontade com a foça das armas, agindo como se fossem os donos do mundo, manipulando a natureza a seu bel-prazer, dispondo da vida alheia conforme seus interesses, decidindo arbitrariamente quem deve nascer e quem deve morrer, nadando no luxo e almejando obsessivamente o sucesso. É evidente que nesse contexto Jesus incomoda, pois questiona nossos comportamentos errados, nossas crenças equivocadas, nossas fantasias mirabolantes, nossas manias de grandeza e obsessões pelo poder e o sucesso. Um Deus com o rosto de Jesus de Nazaré não serve. É melhor manipulá-lo conforme os nossos gostos ou apedrejá-lo e eliminá-lo uma vez por todas.
Jesus não exaspera o tom, mas depois de dar seus esclarecimentos, se retira. É interessante esta sua reação. Não adianta continuar a conversa quando não há mais possibilidade de esclarecimento, mas todos apenas tentam defender e reiterar as razões de suas posições e seu comportamento. Acho uma boa atitude a ser imitada nas nossas conversas com quem não aceita nem sequer a evidência dos fatos, refugia-se num mundo paralelo e acredita que a terra é plana. O pior surdo é aquele que não quer ouvir e, sobretudo, entender. É bom evitar o confronto verbal. Jesus escapa das mãos dos Judeus. Passa para o outro lado do Jordão e vai para o lugar onde João tinha batizado. E permaneceu ali. Muitos vão ter com ele e acreditam nele. E você, de que lado está? A semana santa é uma boa oportunidade para você tomar sua decisão. O Calvário é o melhor lugar para conhecer até onde pode chegar a crueldade de quem se acha “deus” e dispõe da vida alheia como mal entender e a que ponto chega o amor do verdadeiro Deus que está pendurado na cruz para doar a vida até para quem o pregou nela.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)