Regresso à “Mãe África”: Testemunho missionário de um comboniano na República Centro Africana
Após doze anos, regresso à República Centro Africana, na “Mãe África”, onde tinha ficado desde 2000 até 2008. Chegando me bateu um medo: conseguirei me adaptar a essa nova realidade, depois de tanto tempo? Foi um regresso tranquilo, com boas perspectivas no coração e disponibilidade para acolher essa nova realidade, aberto aos desafios que o Senhor me trouxer.
Senti-me bem acolhido. Que alegria encontrar pessoas conhecidas, matar saudades, reviver os bons momentos e também momentos difíceis, que enfrentamos juntos. Como foram agradáveis os primeiros dias de retorno. Porém, encontrei um país em busca de paz e reconciliação. A República Centro Africana em 2013 viveu uma guerra civil. Até hoje, a população sofre suas consequências; o medo, abalou as relações entre cristãos e muçulmanos.
Encontrei uma Igreja, também ela sofrida. Passou por momentos difíceis a nível interno: conflitos e dificuldades com o clero local. Em comunhão com o povo, não foi poupada, pois sofreu a perseguição e a violência de grupos rebeldes, na grande crise de 2013. A palavra dos bispos sempre foi de denúncia, alertando as autoridades da presença de grupos que aproveitam a situação para explorar injustamente as riquezas e os recursos naturais: ouro, diamante e diversos minérios.
Uma das prioridades da Igreja é a juventude, esquecida pelo governo, vítima dos grupos armados. Há diversos projetos de educação em vários níveis: formação profissional, de conscientização e catequese. O objetivo não é somente preparar para o mercado de trabalho, mas sobretudo formar uma juventude que seja agente de transformação, de justiça, de paz e de reconciliação na sociedade e na Igreja. Atualmente devido à ameaça de pandemia do Covid-19, alguns projetos foram interrompidos temporariamente.
Encontrei um povo, que continua lutando para sobreviver. As famílias se esforçam para educar e proteger seus filhos e filhas, numa sociedade que vive a violência e a insegurança constantes.
A nova realidade que encontro aqui, é a influencia da globalização do mercado, muitos produtos da China e de vários outros países circulam em todo o país. O acesso (precário) ao mundo digital se faz presente no mundo juvenil. Seduz e influencia o comportamento de muitos jovens e incentiva o consumismo, ameaçando os valores tradicionais.
Minha nova missão é na nossa comunidade formativa do Postulantado de São José, no bairro popular de Bimbo, em Bangui. Estou contente, pois é uma comunidade bem internacional. Somos três, cada um de seu país: um é centro africano, um do Togo e eu, brasileiro.
Estão conosco onze jovens em formação. Além dos estudos e serviços na comunidade, eles também fazem experiências de serviço em diversas realidades: paróquia, hospital e também num centro de acolhida de doentes e idosos.
Aos poucos vou entrando na nova realidade e missão. Estou feliz aqui com essa juventude africana, cheia de entusiasmo apesar de tantos problemas que enfrentam. Eles têm esperança num futuro melhor e procuram descobrir o projeto de Deus.
Domingos Sávio, comboniano na R. C. Africana