
Reinado de Deus: humanidade e trindade partilhando a mesma história
Uma realidade difícil de aceitar: Deus também é cidadão desta sociedade. Por isso, Ele não pode ficar indiferente à pandemia que está vitimando suas filhas e filhos.
A nossa fé nos diz que a presença de Deus, enquanto cidadão, procura o bem comum e a ‘vida em abundância’. Pelo contrário, a doença, as injustiças, as opressões e a violência, que trazem morte, fazem Deus dar o primeiro passo para iniciar processos de libertação que favoreçam a justiça e o direito e assim tornem a sociedade mais justa e fraterna, onde cada um viva do trabalho de suas mãos.
É isto mesmo que nós chamamos missão, pastoral, evangelização. Nosso objetivo é a construção daquilo que Jesus chamou Reino de Deus. Todos os agentes de pastoral, incluindo os missionários, precisamos ter isto muito claro, se não queremos esquecer o exemplo de Jesus.
Não podemos esquecer que o Reino de Deus é justiça, paz e alegria. Isto mesmo nos ajuda a viver nossa missão evangelizadora como cidadãos nos contextos sociais agravados pela violência, a pandemia e a morte. Entender a evangelização deste modo, nos leva a envolver pessoas, nem sempre religiosas nem católicas. O mesmo fez Jesus que se dirigiu a pessoas comuns. Isso escandalizou e provocou conflitos com as autoridades religiosas do seu tempo. O cristão hoje precisa ter muito presente que a justiça, a paz e a alegria são os sonhos mais profundos de todo coração humano e, por essa razão, o Reino de Deus é tarefa de todas e todos. De fato, hoje é urgente ir além das paredes das igrejas, para inserir-se nas questões sociais, levando aí a luz humanizante do Evangelho.
Pode ser que esta nossa presença no meio do mundo, nos faça sentir menos católicos, porque é uma missão sem fórmulas religiosas, sem celebrações litúrgicas, nem conteúdos ‘sagrados’. Pode até ser difícil reconhecer e aceitar que Deus está aí como um cidadão, querendo melhorar a sociedade, assumindo a humanidade como único caminho de salvação. Não temos que nos preocupar por estarmos longe do sagrado ou da igreja, pois quando aceitamos que Deus se fez carne e se fez cidadão, sabemos que Ele enfrenta conosco as lutas para tornar presente o seu Reino.
Compreender e viver nossa fé, como cidadãos na sociedade atual, tem pretensões e consequências políticas que exigem criatividade e compromisso concreto com os últimos.
Ir. Joel Cruz, comboniano no México
