Ressuscitados com Cristo
No mês da Bíblia a CNBB nos convida a nos aproximar da Palavra de Deus. Nesse ano o livro sugerido foi a carta aos Efésios. Gostaríamos de analisar alguns temas que nos propõe o autor dessa carta: Ressuscitado em Cristo, a relação entre marido e mulher e a armadura divina. Para iniciar este caminho devemos conhecer um pouco da carta em si.
A carta aos Efésios tem uma ligação estreita com a destinada aos Colossenses, como se o autor daquela tivesse em mãos essa última, pois mais de um terço das palavras e maneiras de construir as sentenças em Colossenses aparecem em Efésios. A autoria paulina é contestada por muitos teólogos, que afirmam ser um discípulo, ou uma comunidade que a escreveu baseando-se no pensamento paulino.
Para compreender melhor essa carta é necessário conhecer um pouco do contexto presente na comunidade de Éfeso. Essa cidade era bem reconhecida na época paulina, pois possuía um porto e isso facilitava o comércio. Outro dado importante dessa cidade era ser reconhecida como a terceira cidade mais importante do império Romano.
Paulo na sua terceira viagem passa ao menos dois anos em Éfeso (Atos 19,1 – 20,1). Muitos biblistas afirmam que essa carta não teria como destinatário os efésios, pois não possui informações específicas sobre as realidades vividas por este povo, como Paulo costumava fazer em outras cartas. Se pensa que seria uma carta genérica que poderia ser destinada a qualquer comunidade, que porém em determinada tradição foi remetida para Éfeso.
Podemos organizar a carta aos Efésios da seguinte maneira:
1,1-14: Introdução.
1,15-3,21: Primeira parte: mostra a revelação do mistério de Deus em Cristo como fundamento da redenção do corpo ecumênico da igreja.
4,1-6,20: Segunda parte: Mostra as características da nova vida dos batizados na igreja e no mundo.
6,21-24: Despedida.
Essa organização se assemelha muito com a carta aos Romanos, pois são divididas em duas partes, na primeira apresenta um conteúdo mais teológico e de formação e na segunda um conteúdo mais educativo com exortações de como os cristãos devem viver.
Para conhecer um pouco mais sobre essa carta vamos analisar o início do segundo capitulo, dos versículos 1 ao 10, onde o remetente mostra que a vida anterior guiada pelo pecado é superada pela misericórdia divina. Essa misericórdia é dom gratuito.
Vocês estavam mortos por causa das faltas e pecados que cometiam. 2Outrora vocês viviam nessas faltas e pecados, seguindo o modo de pensar deste mundo, seguindo o príncipe do poder do ar, o espírito que agora age nos homens desobedientes. 3Antigamente também nós andávamos como eles, submetidos aos desejos da carne, obedecendo aos caprichos do instinto e da imaginação; como os outros, éramos, por natureza, merecedores da ira de Deus. 4Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, 5deu-nos a vida juntamente com Cristo, quando estávamos mortos por causa de nossas faltas. Vocês foram salvos pela graça! 6Na pessoa de Jesus Cristo, Deus nos ressuscitou e nos fez sentar no céu. 7Assim, com sua bondade para conosco em Jesus Cristo, ele quis mostrar para os tempos futuros a incomparável riqueza da sua graça. 8De fato, vocês foram salvos pela graça, por meio da fé; e isso não vem de vocês, mas é dom de Deus. 9Isso não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho. 10Porque foi Deus quem nos fez, e em Jesus Cristo fomos criados para as boas obras que Deus já havia preparado, a fim de que nos ocupássemos com elas. (Ef 2,1-10)
No início do segundo capitulo o autor nos mostra uma passagem na vida dos cristãos que vivam em Éfeso. Antes de conhecer a Boa Nova o ser humano se vê imerso em uma realidade de pecado ofertada pelo mundo que o cerca. Podemos notar também uma sutil diferenciação que o autor faz entre “vocês” que vivem em Éfeso e “nós” que anunciamos Cristo, com isso ele não quer fazer uma distinção entre um grupo e outro, mas quer demonstrar que o caminho já feito por alguns pode servir como exemplo para os cidadãos de Éfeso.
A repetição de “faltas e pecados” nos permite entender que estes não são algo abstrato ou presente somente no pensamento, mas são ações concretas realizadas pela pessoa. Porém é claro que estas ações foram referidas a um tempo anterior da comunidade pios vemos o uso dos verbos no passado. Isso nos mostra que o encontro com Cristo muda toda a vida do cristão, as coisas antigas são abandonadas para dar lugar às coisas novas. O caminho de conversão é pessoal, cada um é convidado a seguir com as próprias pernas esse caminho, consciente que o pecado sempre estará a espreita.
Em seguida, nos versículos de 4 a 8, o que o autor expõe nos mostra que a situação de pecado na qual se encontra o ser humano é superada pela misericórdia de Deus. A superação do estado de pecado se dá através da doação de Crista na cruz. Misericórdia (éleos), amor (ágape) e graça (cháris) são termos que se ligam entre si para levar o leitor por um caminho que o conduz a ação salvífica e gratuita de Deus em Cristo. Então todo o evento da paixão, morte e ressurreição de Cristo está embasado em uma ação generosa, livre e misericordiosa de Deus.
Com a ressurreição de Cristo todos nós ressuscitamos com Ele. O autor nos faz participantes desse grande evento divino, isto é, recebemos a partir desse evento salvífico uma nova vida livre de pecados. Essa passagem tem uma forte referência ao batismo, como visto também em Rm 6,4-8 e Col 2,11-13, pois através do batismo nos tornamos novas criaturas, somos renascidos em Cristo, chamados a viver como Ele viveu.
Na última parte da passagem escolhida o autor retoma o que foi dito anteriormente acrescentando alguns detalhes importantes. Afirma que a salvação vem de Deus, de sua bondade e é dom gratuito, ou seja, não é alcançado por nossas forças ou ações. Porém fomos criados para fazer o bem, para compartilhar o amor e a misericórdia divina que recebemos gratuitamente. Ser novas criaturas ressuscitadas em Cristo nos impele a viver como Ele viveu, uma vida a serviço dos mais pobres e abandonados.
Cada um que é chamado a seguir a Cristo, deve tomar uma decisão de mudança de vida. Conscientes que esse chamado não parte de nós mesmos. Se Cristo nos chama, nos dará também as forças para deixar para trás tudo o que nos atrapalha na caminhada. O processo não é mecânico e imediato, seguir a Cristo custa trabalho diário de conversão, de tomar a nossa cruz e seguir em frente, certos de uma coisa: Cristo caminha conosco!
Pe. Deivith Zanioli