
Revista Sem Fronteiras e a Missão Comboniana
Os rumos da Missão Comboniana
A revista Sem Fronteiras quer ser para todas e todos a cara da missão comboniana no Brasil e no mundo. Por isso, ela sempre mostra a vida da nossa província. Está focada na missão além fronteiras e, em rodízio, vai apresentando algumas pastorais sociais incluídas nas quatro prioridades assumidas pelos Missionários Combonianos no Brasil e no continente americano, a saber:
- Amazônia e pastoral indígena;
- Pastoral afro e religiões de matriz africana;
- Missão nas periferias urbanas e luta pela defesa dos direitos humanos;
- Animação missionária da igreja e pastoral vocacional.
A evangelização do ponto de vista do carisma comboniano tem tudo a ver com as pastorais sociais. E para nós, o compromisso com os indígenas, os Quilombolas, as populações afro e as populações empurradas para as periferias urbanas e geográficas, são expressão de nosso compromisso com o Evangelho do Reino de Deus. Tais compromissos são de facto nosso esforço e nossa luta concreta para atualizar e concretizar as grandes intuições do concílio Vaticano II.
São incontáveis as vezes que nós e muitos outros agentes de pastoral fomos acusados de comunistas, como também o próprio papa Francisco é constantemente acusado de comunista. Com o objetivo de estimular a reflexão, proponho o seguinte: ensaiemos uma breve comparação entre as bandeiras levantadas pelas correntes mais à direita, tanto na sociedade como nas igrejas e/ou religiões, e as bandeiras que as correntes chamadas de esquerda carregam.
A Polarização como Estratégia
No primeiro caso, o da Direita, encontramos uma corrente de tendência moralista, para a qual não faltam desmentidos e contradições factuais inequívocas na vida dos seus/suas militantes. Tenho em mente conceitos como: Deus, Pátria, família, propriedade privada, aborto, entre outros.
Já para o caso das esquerdas, acredito que não é muito difícil reconhecer bandeiras como a promoção de políticas públicas em resposta à desigualdade social, de modo a favorecer as populações mais carentes. É possível encontrar uma lista que inclui: acesso à educação, o SUS como serviço de saúde inclusiva, a moradia, a igualdade racial, a ação indigenista, a Amazônia e o meio ambiente, etc. Cabe aqui reconhecer muitos limites e contradições criadas pelas lideranças e pelas populações de esquerda. Está fora de questão, devido à evidência prática.
Há muito tempo que todas e todos nós vimos surgir e crescer exageradamente o fenómeno da polarização. A comunicação oficial, chamada de grande mídia, gradualmente se deixou controlar e manipular pelos grupos económicos e Financeiros (em especial os bancos). Portanto, de facto a grande mídia é uma das ferramentas utilizadas pelo poder global de fato (Grupos económicos e brancos). A outra grande ferramenta usada constantemente em todos os quadrantes do globo terrestre é a máquina política. Se estivermos atentos, podemos reconhecer que a comunicação oficial vai doseando as informações e os dados, de forma a alcançar seus objetivos. Nada impede o recurso generalizado à mentira, e às fake news… designação que não é mais do que um eufemismo descarado. Somos constantemente bombardeados com fatos e com mentiras, que são cuidadosamente mesclados. Outro elemento fundamental para que a estratégia funcione é a produção e alimentação do medo (que se torna coletivo, ou generalizado), e que apre espaço para qualquer tipo de proposta e ou solução. Essa nova proposta tem enorme probabilidade de ser aceite e apoiada, perante o elevado grau de medo e desorientação previamente induzidos na população. Sempre houve e haverá vozes discordantes, vindas de quem conseguiu se distanciar, mantendo seu espírito crítico. Mas essas vozes, permanecendo isoladas, não só não produzem efeito, mas acabam mascarando e dando uma aparência de abertura e ‘garantia’ de liberdade em todo o processo. Os grandes objetivos, definidos pelo poder real (global), normalmente não são imediatos. São bem definidos e claros, mas somente para quem os fixou. Por essa razão, nunca são declarados, a não ser no momento mais favorável, em resultado de um monitoramento constante dos processos. Esses grandes objetivos são lançados no futuro, seguindo um plano minucioso. Podem incluir, e de fato, incluem conteúdos e fatos favoráveis a um e outro polo, em doses controladas. Mas na realidade tudo está rigorosamente planejado a fim de, no momento mais oportuno, chegar ao objetivo.
É necessário ainda considerar que tanto um polo como o outro, mesmo parecendo contraditórios, de fato servem os interesses do poder do sistema global. Certamente todos vemos diferenças na atuação e nos resultados entre um polo e o outro, mas na realidade, o polo das esquerdas é grandemente coagido e muitas de suas ações acabam sendo inviabilizadas ou no mínimo desidratadas.
Kairós: tempo de Esperança
Para mim, o século XXI, em meio a tantos dramas e contradições, começou já a dar lugar a uma época de luz, que podemos designar de um verdadeiro kairós (tempo de Deus). Não dá para negar sucessivas ondas de solidariedade, motivadas por uma grande diversidade de problemas que atingem grupos e populações inteiras. Nossas juventudes têm uma forte sensibilidade para os temas da ecologia e do respeito à natureza e à vida em geral. Em muitos bairros e comunidades podem ver-se sempre mais sinais de abertura e respeito às diferenças. Cresce o espírito crítico em relação à grande mídia (tvs e redes sociais).
Todas e todos precisamos deixar que o Espírito Santo abra nossas janelas para que entre ar fresco, na expressão do papa João XXIII na abertura do concílio Vaticano II, em 1963. Esse mesmo Espírito conduziu as e os participantes do sínodo da Sinodalidade, que iniciou no dia de São Francisco de Assis, 4 de outubro. E que todas e todos os nós demos também seguimento ao sínodo lendo, estudando, escutando e rezando pelo sínodo, que depois da primeira sessão, vai continuar nas dioceses e paróquias até culminar na segunda sessão a ter lugar em outubro de 2024˜.
Possíveis rumos
Que são Daniel Comboni, um missionário completamente entregue aos africanos escravizados e explorados, nos inspire em nossa missão nestes tempos tão conturbados. Que ele interceda pelo papa Francisco e pelo sínodo que Já vai começar.
João Paulo, irmão Comboniano em SP