Santidade é Alteridade
“Um cristão deve fazer a paz, mesmo quando faltam as ‘razões para a paz’. Como a fé, a esperança e a caridade, a paz é a verdadeira bem-aventurança, quando não há vantagem, conivência, interesse. Se os outros odeiam, isso não é motivo para nós odiarmos também. O mal é vencido com o bem: este é o mandamento de Deus. Os outros são mandamentos dos homens. (Dom Primo Mazzolari). É assim que Deus reage diante da infidelidade e a maldade de Seu povo. Apesar de ter razão de sobra para se deixar levar pela ira e reagir com violência, como agem normalmente os seres humanos quando se sentem traídos e atacados, Seu coração comove-se e arde de compaixão. Desiste de Seu direito de resposta. Sua reação faz a diferença: “Não darei largas à minha ira, não voltarei a destruir Efraim, eu sou Deus, e não homem; o santo no meio de vós, e não me servirei do terror” (Os 11,9).
Esta é uma das melhores definições da “santidade”. Está em linha com a revelação de Jesus de Nazaré quando proclama as Bem-Aventuranças (Mt 5) e anuncia a seus discípulos o “dogma da misericórdia”: “Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36-38). A santidade de Deus, isto é, o que o separa e o distingue de todos os outros seres, é muito do que Sua perfeição, onipresença, onisciência e onipotência. A essência de Sua “alteridade”, o cerne de Sua transcendência é sobretudo a Caridade que não conhece limites. É a misericórdia que não impõe exigências. Nenhum outro ser é capaz de amar como Ele ama, de perdoar como Ele perdoa, de servir como Ele serve, de fazer a paz como Ele a faz. Santidade é alteridade. Consiste em fazer a diferença. É escolher o lado certo da vida que é aquele proposto por Jesus no discurso da montanha.
Deus é Amor. O Seu amor é comparado àquele de um pai para com o filho. É mais forte que o amor de uma mãe por suas crianças. Deus ama seu Povo mais do que um esposo ama sua bem-amada; este amor se sobrepõe até às piores infidelidades; chega até à mais preciosa doação: “Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único” (Jo 3,16). Ao pior ato de violência cometido pela humanidade que é matar Deus na cru, Jesus responde com o supremo ato de amor que é dar a vida. É essa a razão da Sua santidade. Não cede ao impulso da vingança com o risco de matar inocentes, mas se entrega ao Amor.
O bonito dessa história é que Ele não guarda a santidade só para Ele, mas a compartilha conosco. A diferença das divindades pagãs que são ciumentas de seus atributos divinos e fazem de tudo para torná-los inacessíveis aos seres humanos por medo de sua concorrência, Deus infunde abundante e gratuitamente Sua santidade nos nossos corações através do dom de Seu Espírito de Amor. Ele deseja ardentemente que sejamos santos e santas como Ele é santo ( Lv 11, 45; cf. 1 Ped 1, 16), amando sempre, de graça, sem condições e sem limites, vivendo a misericórdia e fazendo a paz. A santidade não é nada mais do que a ‘Caridade plenamente vivida’ (Papa Francisco, Exortação Apostólica “Gaudete e Exultate” n. 21)”.. Portanto, se este Deus existe, não tenho o direito de viver como quiser; se este é o Deus em que acredito, não tenho o direito de viver na indiferença, propagar mentiras, espalhar o ódio, agir com violência, ser egoísta e fazer guerra; se decido de seguir Jesus de Nazaré, é só nas bem-aventuranças que encontro o meu projeto de vida e a razão da felicidade que o Pai deseja para todos/as. (pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano).