São Daniel Comboni e o mistério do coração de Cristo, Bom Pastor
O amor de Deus pela humanidade tem a sua manifestação no coração do Verbo encarnado, que nos amou com um coração humano e infinito, e por isso, o seu coração traspassado sobre a Cruz, é considerado o símbolo mais real do amor com que o Redentor ama incessantemente o Pai e os homens seus irmãos. O Coração do Filho de Deus manifesta o eterno amor de Deus pela humanidade.
Foi por esta razão que São Daniel Comboni fez do Coração de Cristo o centro da sua espiritualidade missionária e o motivo inspirador do seu apostolado africano. Ele devolve a Jesus Cristo o mesmo amor consagrando a ele a sua existência, se compromete a aderir à sua vontade, e sem hesitação a sua vocação missionária. Esforça-se num constante exercício de coerência evangélica na qual se torna sempre mais íntima a sua união com Ele, tornando-se assim sempre mais generoso no seu serviço missionário aos africanos. E por isso ele escreve:
“(… Este divino coração que deve inflamar toda a África Central e converter a fé todos estes povos…” (Escritos 3203); “A obra de regeneração já foi iniciada e vai ser confiada ao Sagrado Coração de Jesus que deverá incendiar toda a África Central enchendo-a do seu fogo divino. No próximo dia 14 de setembro, aqui em El-Obeid, farei a solene consagração de todo o Vicariato ao Sagrado coração de Jesus…” (Escritos 3211).
Essa experiência foi sendo vivida por Comboni desde a sua infância e na sua preparação à vida missionária dentro do Instituto Mazza, na sua primeira viagem à África na Estação de Santa Cruz e também na espiritualidade do Coração de Jesus, vivida por Santa Margarida Maria Alacoque.
Da contemplação do Coração traspassado Comboni recomeça e articula o seu caminho missionário tendo os olhos fixos em Jesus Cristo para “entender melhor o que quer dizer um Deus morto na cruz para a salvação das almas” e permanecer em sintonia com o palpitar do coração deste Deus, do qual recebe a energia para permanecer até à morte no seu sim à vocação recebida. Comboni viveu de modo particular a união com Jesus crucificado nas várias situações e etapas da vida missionária. A cruz, abraçada como a sua esposa inseparável e eterna fez da sua vida uma “Via Crucis”, percorrida fielmente até o Calvário, para a redenção da África.
A vida de Comboni foi uma vida profundamente assinalada pelo Mistério da Cruz; uma cruz aceita, buscada e, sobretudo amada, como consequência da sua vocação que moldou o seu caráter e o educou à santidade, plasmando o seu zelo missionário. Foi a força deste olhar contemplativo que o levou a afirmar no seu leito de morte: “… sou feliz de ser crucificado com Cristo na cruz”. Comboni se torna para nós hoje, modelo de vocação missionária, pois só um coração amado por Deus é capaz de se doar a todos. Assim o fez.
Alcides Costa, Comboniano no Equador