
Se calarmos a voz dos profetas, as pedras falarão por eles!
Profeta não tem vida fácil. Suas palavras incomodam, sobretudo quando chegam como vento impetuoso que sacode nossas estruturas, balança nossas certezas e nos desinstala de nossas cômodas neutralidades. A profecia, em vez de ser valorizada como dom do Espírito e dimensão essencial da vida de quem recebeu o Batismo, é hostilizada, marginalizada, amordaçada, ridicularizada, perseguida e até eliminada. Para justificar essas atitudes, quase sempre se invoca a prudência, como se fossem eternas adversárias. Na realidade, não há prudência sem profecia. A prudência não é a arte de equilibrar-se em cima do muro para se dar bem com todo mundo e garantir sua sobrevivência, seus interesses e seus negócios, mas é a capacidade de discernir o Bem e de buscar os melhores meios para realizá-lo, sobretudo quando está em jogo a vida dos outros. Prudência é saber discernir e tomar o caminho certo, custe o que custar. Nesse processo, bem-vinda a profecia que nos desequilibra dos equilíbrios comprometedores e busca harmonizar nossas opções com os valores do Evangelho. Aproveitemos os profetas enquanto estão vivos. Se calarmos suas bocas, as pedras falarão por eles. Parabéns a todas as pessoas que, apesar da repressão e perseguição, não desistem da luta. A memória do martírio de São João Batista alimente o nosso ardor profético. Que nada no mundo nos faça perder a indignação diante das violações aos direitos humanos. Que a firmeza de nossos posicionamentos não se curve a interesses particulares. Que a coragem de nossas atitudes não se acovarde diante do medo e das ameaças. Que a generosidade de nossa dedicação nunca ceda a posturas frias e burocráticas. Que a profecia de nossas palavras não se deixe calar com a oferta de cargos e salários. Que a nossa ambição nunca nos leve a trair a causa e os/as companheiros/as. Que o apelo do fraco e do oprimido tenha mais importância do que os argumentos dos poderosos. Que as histórias das vítimas sejam antepostas às versões oficiais e às maquiagens dos marqueteiros. Que os riscos da marginalização e do isolamento nunca nos façam desistir. Que as calúnias proferidas pelos perseguidores soem aos nossos ouvidos como elogios. Que as incompreensões por parte daqueles que compactuam com as coisas erradas nos confirmem em nossa caminhada. Que em qualquer circunstância e, apesar de tudo, sejamos sempre defensores/as da vida e dignidade humana. São João Batista, presente! Mártires da caminhada, presentes!
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)