Sinodalidade ontem e hoje — Por uma sinodalidade comboniana?
A Igreja nasceu sinodal
Desde seu início, a Igreja é guiada pelo Espírito de Jesus. Por essa razão, o foco de Jesus no Reino de Deus e sua forma de atuar com todos passa a ser o foco e também a prática da Igreja. Olhando para o ‘sínodo’ de Jerusalém (At. 19) podemos ver como o problema do longo conflito, devido à entrada de povos não judeus na igreja, não tem solução definitiva. No entanto, as diferentes visões e situações, animadas pelo Espírito Santo, buscam e acabam encontrando um entendimento que consegue garantir o respeito na diferença. O papa Francisco comenta: “É o Novo Testamento que nos mostra como a Igreja nasce sinodal e vive através da sinodalidade”.
Concílio Vaticano II
60 anos depois do evento eclesial mais importante do século XX, estamos chamados a retomar e assumir para valer uma das principais intuições do Concílio: a igreja é o Povo de Deus. Mas quando olhamos com atenção para a igreja, tanto antes como depois do Concílio, continuamos vendo uma igreja clerical e hierárquica. De fato, estamos aqui considerando uma revolução copernicana: o povo precisa ser sujeito efetivo e ativo na igreja. Ministros e hierarquia sempre vão ter seu lugar e funções, mas não podem deixar de ser ‘povo’, pois nesse caso estarão desvirtuando o foco e a prática de Jesus. Tal não pode nunca ser a comunidade dos discípulos de Jesus.
É aqui que Francisco funda e motiva sua atuação pessoal e eclesial: Todas e todos chamados a caminhar juntos. Porém, somente saberemos a direção se cada pessoa caminhar junto com Jesus vivo, seguindo atrás do Mestre de Nazaré. Somente assim podemos ser povo de Deus a caminho, inspirados e guiados pelo seu Espírito, vivo e atuante na comunidade e no mundo.
Sinodalidade e Missão
Em nosso mundo comboniano, a sinodalidade nos desafia em duas vertentes, em linha com nosso carisma originário: Salvar a África com os africanos e também promover sempre mais os ministérios laicais.
Salvar a África com os africanos
Na esteira de São Daniel Comboni, nós continuamos acreditando que os povos que nos acolhem e suas culturas são sujeitos de sua própria história e carregam sementes que Deus semeou. O próprio Espírito Santo conduz os povos e os vivifica ainda hoje. Nós chamamos isso de empoderamento popular e de autodeterminação dos povos.
Ministérios Laicais Femininos
Em termos eclesiais, falamos de promover e formar diferentes ministérios, de acordo com a orientação do Espírito Santo, para o crescimento da comunidade – corpo de Cristo (1Cor. 12). As mulheres continuam sendo demasiado excluídas. Os espaços de decisão e poder na igreja continuam sendo exclusivamente machistas. Também neste campo, o papa Francisco fez alguns gestos proféticos de grande simbolismo, mas de fato, o que faz falta é integrar e sobretudo legislar, para que a riqueza da experiência de fé e das experiências culturais possam de fato enriquecer a igreja, povo de Deus a caminho: igreja sinodal.
Acreditamos que a vida da igreja está nas mãos de muitos ministros, leigas e leigos que mergulham na vida do povo e o servem através das diversas pastorais, nas comunidades eclesiais. Enfrentamos cotidianamente o desafio de ‘reinventar’ uma igreja ministerial, já que, nas últimas décadas foi-se esvaziando progressivamente o papel dos leigos, especialmente das mulheres. Por isso, continuou a tendência a verticalizar a dinâmica do poder, a qual vem empobrecendo sempre mais o protagonismo dos batizados e dando preferência ao fenômeno religioso dos eventos de massa, onde se perdem os vínculos comunitários.
Aqui o grande desafio e expetativa é que o próximo sínodo facilite a integração de toda a riqueza da igreja, em sua diversidade, nos processos de decisão e no caminhar das distintas comunidades, rumo ao Reino de Deus.
João Paulo, comboniano em SP