
Sínodo-Igreja em Saída: Saúde e escola, direito dos indígenas
A forte tendência da humanidade de se concentrar nas cidades, migrando das pequenas para as grandes, também ocorre na Amazônia’ (Doc. Sínodo Amazônia, 34). Muitos povos indígenas, ribeirinhos, caboclos, mestiços, quilombolas, afrodescendentes ou camponeses deixam o campo para vir morar na cidade de Manaus. Com o sonho de encontrar uma vida melhor, com mais oportunidades.
“Em manaus os indígenas são forçados a sobreviver vendendo artesanato, resultado de sua cultura; muitas vezes não vêem reconhecido seu direito à saude ou educação na escola. Perdem direito a terreno, à vida, justiça; sua única esperança acaba sendo uma igreja; politica esquece sempre os indígenas e os pobres”
1. Nova realidade – A cidade
O indígena que chega à cidade geralmente acaba ficando na periferia. Tem que acomodar-se em lugares de risco, como as margens dos igarapés. Outros ocupam terrenos abandonados pelos donos por não poder pagar os impostos acumulados, e outros ainda, decidem entrar em propriedades privadas e acabam sendo expulsos pela polícia depois de uma reintegração de posse.
Na cidade os indígenas estão expostos à delinquência, desemprego, discriminação, suicídio, narcotráfico, etc. Mas, talvez o maior problema do imigrante na cidade é que ele vira um indivíduo invisível, anônimo para o Estado. Isso porque, atualmente, as políticas públicas estão voltadas para a população indígena do interior, das aldeias e não para o indígena urbano. No campo da saúde e da educação o morador da cidade não tem aquele atendimento que deveria e que tem direito, o mesmo que recebe o indígena aldeado.
Nesta realidade, o que a Igreja pode fazer? Cristo fez missionários seus discípulos quando disse: “Vão pelo mundo todo, proclamem o evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15). O Papa Francisco continua insistindo que precisamos ser uma Igreja em Saída: indo às periferias onde se encontram os pobres, os sofredores, os imigrantes, os marginados, os explorados, os que clamam por justiça e vida digna. Na Evangelii Gaudium, 25 afirma: ‘’Coloquemo-nos em estado permanente de missão“.
2. Sínodo para a Amazônia e conversão pastoral
No documento final do Sínodo para a Amazônia se faz referência ao aspeto missionário da Igreja. Para que ela viva a dimensão da saída, precisa duma conversão pastoral: “nossa conversão pastoral será samaritana, em diálogo, acompanhando pessoas com rostos concretos de povos indígenas, camponeses, afrodescendentes (quilombolas) e migrantes, jovens e moradores da cidade” (No. 20).
A conversão pastoral, exigida à Igreja para que ela continue sendo missionária, é necessária e fundamental para que ela possa responder aos desafios do mundo de hoje, nos diferentes contextos sociais, políticos, econômicos e religiosos. Mas sobretudo, precisa-se de uma conversão pessoal, a única que tronará possíveis as mudanças pastorais que pede a realidade amazônica. Deve começar pelos pastores que guiam e acompanham pastoralmente os povos indígenas, ribeirinhos, camponeses, pescadores, moradores da cidade, etc. Se isto não acontecer, se corre o perigo que os frutos do Sínodo, fique apenas em boas intenções, ou num belo sonho/miragem.
3. Realidade da Pastoral Indígena em Manaus
No começo deste artigo se apresenta um pouco a realidade que vive o indígena na cidade de Manaus. Neste aspeto, a Pastoral Indígena da Arquidiocese de Manaus se compromete e trata de viver a conversão que pede o Sínodo e responder a esse desafio missionário urbano. No campo pastoral ela faz um trabalho de formação, catequese e administração dos sacramentos, especialmente onde os párocos têm maiores dificultardes de acompanhar as comunidades indígenas, como é o caso das ocupações em algumas áreas missionárias.
Na liturgia existe a preocupação da inculturação. Que nas celebrações pelo menos haja elementos próprios dos indígenas, como cantos, expressões e símbolos. Não é fácil, pois há indígenas que pensam que não se deveria misturar sua religião tradicional com a religião católica.
“Em manaus lideranças indígenas buscam política públicas favoráveis. Quase sempre são forçados a sobreviver vendendo artesanato, resultado de sua cultura; muitas vezes não vêem reconhecido seu direito à saude ou educação na escola. Perdem direito a terreno, à vida e à justiça”
4. Pastoral Social Indígena e Políticas Públicas
No campo social, ela tem um programa e metodologia própria. Visitas às comunidades indígenas presentes nas periferias; se estima que essas comunidades sejam mais de cinquenta. Faz-se um diagnóstico dos problemas que elas enfrentam e suas necessidades: saúde, educação, sistema de esgoto, preservação da cultura e da língua, projetos de artesanato, demarcação e regularização dos terrenos, legalização das associações, etc. Logo vêm as pistas de ação e por último o acompanhamento e assessoramento necessários.
Tem-se conseguido colocar indígenas nos lugares estratégicos como no Conselho Municipal e Estadual. Trabalha-se também em parceria com a Caritas em projetos sociais que beneficiam um bom número de comunidades indígenas.
Uma das prioridades desta pastoral é trabalhar para que as políticas públicas Vão ao encontro das necessidades do indígena urbano. Sempre que possível, como é o caso das realizações anuais das Conferencias Municipais e Estaduais sobre o tema da saúde e da educação, a Pastoral Indígena apresenta esta situação e trata de incidir com propostas para que a Legislação Federal considere e procure uma solução satisfatória, que beneficie a população indígena que mora na cidade.
5. Um pedido do Papa e do Sínodo: sair para caminhar com os indígenas
Temos que ir ao encontro do outro, onde ele está, para estar com ele, escutá-lo, compartilhar a vida e juntos caminhar na fé e na vivência de Deus. Jesus Cristo nos dá o exemplo muito claramente nos evangelhos. Ele é o Deus conosco, que se coloca ao mesmo nível do ser humano, tomando nossa condição humana, se fazendo um de nós. Mais tarde, começa a anunciar o Reino de Deus e diz que esse Reino é dos pobres. Percorre as cidades e suas periferias, se mistura e caminha com os pobres, come com eles, os cura, se preocupa pelas suas necessidades. Porém, isso lhe traz como consequência a crítica e o desprezo. Mas, ele sabe que essa é a vontade de seu Pai.
A prática de Jesus, não correspondia à da estrutura religiosa de seu tempo. Ela ficou presa, fechada em si mesma; preocupada com culto, o cumprimento da Lei de Moises, a Tradição e outros aspetos. Esquece a população que é discriminada, rejeitada, desprezada, ficando completamente abandonada pelos seus pastores. Por isso, Jesus diz que o povo anda como ovelhas sem pastor. O mesmo acontece com a Igreja de Cristo hoje.
Nós combonianos assumimos o compromisso de sair para caminhar com os indígenas das periferias“Nas periferias de Manaus os hábitos mudam sempre, incluindo o esporte. Para sobreviver recorrem ao artesanato, resultado de sua cultura; muitas vezes não vêem reconhecido seu direito à saude ou educação na escola. Perdem direito a terreno, à vida e à justiça. A única esperança é a igreja ”
6. Concluir com um desejo que é um bom compromisso
Que o Bom Pastor ilumine e dê sabedoria e humildade à Igreja presente na Panamazônia, para assumir os desafios que atualmente enfrenta. Que nossa Igreja busque uma disposição generosa e amorosa, para uma conversão tão necessária, em benefício desta porção do Povo de Deus. Que ela seja capaz de sair para ir ao encontro do outro, para compartilhar o Amor de Deus que optou e continua optando pelos mais pobres e abandonados.
Que Maria, Nossa Senhora da Amazônia, continue acompanhando o seu povo com amor maternal.
Carlos Romero, comboniano em Manaus