SÓ À LUZ DE JESUS DE NAZARÉ VEREMOS A LUZ
À primeira vista parece que o milagre de Jesus não dá certo. Precisa repetir o gesto da imposição das mãos para que o cego que lhe trazem possa enxergar bem. Na realidade, o texto do evangelista Marcos não tem como prioridade contar a repentina cura de uma pessoa com deficiência visual. Com a sucessão de ações, a repetição de gestos e a recuperação progressiva da vista, o Mestre mostra a seus discípulos que segui-lo não é uma tarefa simples. [Acesse áudio aqui]
Na vida cristã nada acontece de uma hora para a outra. É necessário dotar-se de paciência, constância, perseverança e, sobretudo, de confiança cega em Jesus. Ele não age como curandeiro. Não resolve os problemas com a varinha mágica. Essa imagem distorcida do Mestre, ainda muito presente nas nossas fantasias religiosas, precisa ser deletada.
Fé: um caminho
A fé é um percurso desafiador, progressivo, que dura a vida toda e que, se por um lado é marcado por muitas experiências significativas que agregam valor à vida, por outro é feito de quedas, renúncias, desistências e, sobretudo, dificuldades de entender, resistências a aceitar e medo de errar. Em suma, a história do cego é a nossa cara, é a narrativa da nossa vida de discipulado e do nosso lento e difícil percurso de conversão, da nossa luta entre a cegueira e a nossa vontade de enxergar bem. Nela reconhecemos nossa história de fé.
Os amigos que acompanham o cego até Jesus trazem à nossa memória todas as pessoas que já fizeram parte da nossa caminhada e que nos levaram até Jesus para que Ele nos tocasse e abrisse os nossos olhos para enxergar a realidade do Seu jeito.
Os pobres
Os pobres tiveram um papel importante nesse processo de recuperação da vista. Foram eles que nos pegaram pela mão e nos conduziram até o Mestre, para que Ele nos tocasse com sua misericórdia, iluminasse nossos olhos com o brilho de Sua luz e nos dotasse da capacidade de enxergar o mundo conforme a ótica do Seu Evangelho. A partir do ponto de vista dos pobres e à luz da Palavra de Jesus de Nazaré, estamos aprendendo a ver todas as perversidades que o mundo busca esconder nas trevas e enxergar os caminhos que podem nos levar um dia a ver novoa céus e terra nova, que tanto esperamos.
Esse processo de recuperação da vista não depende da saúde dos olhos, mas dos ouvidos do coração. Jesus cura nossa cegueira com sua Palavra. Esta é como o pão de cada dia. Tem que ser assimilada, acolhida, meditada e vivenciada todo dia. A qualidade “divina” da vista é diretamente proporcional à obediência ao Evangelho. Sem o Evangelho, Jesus se torna um ídolo que, como reza o salmo 115, tem boca e não fala, tem olhos e não vê, tem ouvidos e não escuta.
Sem Evangelho, Jesus não diz nada, ou pior diz que o que os “idólatras” mandam Ele dizer. Sem o Evangelho, Jesus perde sua luz e aqueles que o seguem se tornam mudos, cegos e surdos do mesmo jeito com que Ele é emudecido e cegado. A fidelidade à Palavra leva a enxergar aos poucos até recuperar a vista e conseguir ver distintamente com os olhos de Deus todos os eventos da vida e lê-los numa ótica de fé. A permanência na cegueira é sintoma de surdez espiritual.
O “mundo” que cega
Tudo isso não tem sido fácil, pois a mentalidade do mundo busca todo meio para apagar ou manipular a luz do Evangelho, ofuscar nossa vista e manter as pessoas na cegueira crônica, mas não desanimemos. A perseverança nos consente de alcançar o que, à primeira vista, parece impossível. Confiemos cegamente em Jesus de Nazaré e deixemo-nos conduzir por aquilo que Ele disse e fez. Só à luz de Sua Palavra e prática da mesma veremos a luz.
Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano
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