Solidariedade aos/às Catadores/as de materiais recicláveis
Fatos de violência racista
Catador/a não pode subir a rampa do Palácio nem viajar para a Itália. A turma do preconceito não deixa. Bastou uma foto tirada em Roma para acabar com a festa de Aline, a mulher negra e catadora de materiais recicláveis que juntamente com outros/as representantes do povo brasileiro entregou a faixa presidencial ao presidente Lula. A alegria de pobre dura pouco. A coitada foi alvejada por mensagens agressivas e grosseiras nas redes sociais que a cada dia se parecem mais como rede de esgoto. Ela chegou a gravar um vídeo para explicar sua viagem para Roma, mas não precisava. É direito dela viajar, fazer intercâmbio, adquirir novos conhecimentos. Não pode ser prerrogativa só de poucos privilegiados. Ela esbanjou dignidade, enquanto o conteúdo das críticas que lhe foram dirigidas disse muito a respeito da hipocrisia e baixaria dos/as seus difamadores/as.
Ontem um outro catador ficou tristemente famoso. Foi barbaramente assassinado por policiais militares na Cidade de Deus (sic). Parece uma ironia de mau gosto, mas a história, infelizmente, é verdadeira. Chamava-se Dierson. Tinha 50 anos. Também ele era preto. Trabalhava como catador de materiais recicláveis. O crime que lhe ocasionou a “pena de morte”, executada de maneira sumária, foi carregar um pedaço de madeira pendurado em uma bandoleira. Os militares confundiram o bastão por um fuzil. Não teve conversa. Miraram nele e meteram balas. As testemunhas dizem que foram muitos tiros. A vítima estava no quintal de casa quando foi atingida. Morreu no local. O bastão era sua ferramenta de trabalho. Servia para separar os materiais de onde tirava o sustento para sobreviver. Ele tinha problemas mentais. Não tinha nenhuma pendência com a justiça. Como sempre a resposta do poder público foi uma nota “desafinada” dizendo que a enésima operação desastrada vai ser apurada. Na realidade, não vai dar em nada, assim como foi com quem foi morto por bala perdida ou porque carregava um guarda-chuva ou uma furadeira.
Preconceito, ódio… e armas
Os brados raivosos de internautas preconceituosos contra Aline e os tiros disparados contra Dierson constituem o preço cobrado à ousadia de pobre subindo a rampa do Palácio. Não vem com conversa que tudo não passa de um equívoco, de uma coincidência, de um fato isolado ou de um lamentável acidente. Não. É consequência da cultura do ódio e preconceito que vem sendo semeada e cultivada há muito tempo. É a mesma que vitimiza pessoas que têm orientações, opiniões, credos e opções diferentes. É a tempestade que colhemos por termos semeado o vento da violência. A obsessão por armas está atingindo níveis assustadores. Está até provocando alucinações. A cabeça das pessoas está tão obcecada por armamento que já vê armas por todo lado. O pior é que às armas vistas com a imaginação se responde com tiros de armas de verdade, sobretudo quando, por uma terrível distorção mental provocada pelo ódio, todo mundo passa a ser considerado inimigo/bandido, principalmente se se trata de preto, pobre e morador de comunidade. Aprecio o trabalho da polícia. Os/as policiais são essenciais para garantir o direito à convivência pacífica e à segurança. Solidariedade com todos/as os/as profissionais da segurança pública que trabalham dentro dos limites da lei. Mas, tem setores que há tempo vêm desandando para o abuso de autoridade e a violência, protegidos pelo corporativismo e a impunidade. Há policiais que estão substituindo arbitrariamente o legítimo uso proporcional da força pelo uso excessivo, desproporcional e abusivo da força. A sua atuação violenta está alimentando a violência. Há quem justifique essa mudança, considerando-a necessária para enfrentar uma criminalidade cada vez mais forte, abusada e organizada, mas o “modus operandi” das organizações criminosas nunca pode ser utilizado como modelo de atuação das forças de segurança do estado democrático de direito. Está na hora de dar um basta. O enfrentamento à violência se faz dentro da legalidade e a prevenção acontece graças a políticas públicas que garantem os direitos fundamentais. Quem escolhe a violência como resposta à criminalidade faz o jogo da bandidagem. Quem age fora da legalidade deve responder pelos seus atos. Espero que se faça justiça. Solidariedade à companheira Aline. Dierson, presente!
Golpismo gera TERRORISMO!
Tem policial que confunde um bastão de madeira por um fuzil e mata sem dor quem o carrega. Ao mesmo tempo, tem policial que não vê nada de mal nos acampamentos golpistas, trata como passeio turístico a invasão e devastação das sedes das principais instituições do País e, no lugar de enfrentar os terroristas, bate papo com eles e tira selfie. Sabe qual é o motivo dessa diferença de tratamento? O bastão estava na mão de um preto, pobre e favelado. Enquanto os terroristas são quase todos brancos, com bom poder aquisitivo, apoiados por gente graúda, financiados por pessoas ricas e, sobretudo, apoiadores de uma política de segurança descolada do respeito pelos Direitos Humanos, assunto que agrada amplos setores da segurança pública. Os policiais que tomam partido, fazem preferência de pessoas, beneficiam setores da sociedade mesmo quando cometem crimes, agem com truculência com os pobres e são lenientes com os ricos, atuam à revelia da lei e se descolam dos Direitos Humanos, só tumultuam a sociedade e perdem o respeito da população. A lei é igual para todo mundo e tem que ser cumprida enquanto lei, independentemente da cor, gênero, condição econômica, opção política e religiosa dos cidadãos.
pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano
NOTA: Atualizado esta segunda, dia 09 de janeiro