SUBIR NO CARRO DO OUTRO
A cena do encontro entre o eunuco etíope e o diácono Filipe (At 8,26-40) é o ícone de uma Igreja que deve desembarcar de sua arrogância institucional e sair para a rua para se aproximar de qualquer pessoa. Já não se trata de uma instituição religiosa que espera, do alto da sua “autoridade moral”, por aqueles que querem embarcar nas suas estruturas, liberando o acesso apenas àqueles que estão em conformidade com a doutrina, as normas canônicas e os princípios morais, mas de uma comunidade missionária que simplesmente sai ao encontro das pessoas, sobretudo de quem anda sem rumo, e espera à beira da estrada a oportunidade de pedir para embarcar na vida delas para caminhar juntos, escutá-las, compreendê-las e partilhar a experiência de Deus, não só com palavras, mas sobretudo através do testemunho do acolhimento e do amor.
O texto dos Atos diz que o Espírito pressiona Filipe e lhe ordena: “Aproxima-te desse carro e acompanha-o” (8:29). Não espere que o eunuco tome a iniciativa. Aborde-o. Ouça-o atentamente. Preste atenção às suas necessidades. Acolha suas dúvidas com respeito. Sacie sua sede de Deus. Suba a bordo de seu carro e sente-se ao seu lado. Explique as Escrituras não com o tom severo do pregador que usa a Palavra para dar lições de moral aos outros, mas como um companheiro de viagem que alegremente compartilha sua experiência de fé. Lembre-se de que o conteúdo do anúncio não é uma doutrina fria, mas o encontro pessoal com Jesus de Nazaré, não um Jesus qualquer, mas com o servo sofredor, o crucificado e o ressuscitado, que vem para servir e dar a sua vida para que todos, sem distinção, a tenham em abundância.
Esta é a melhor maneira de anunciar o Evangelho. Filipe parte do problema real daquele homem escravo e castrado e propõe-lhe a história de um Deus cujo amor não conhece fronteiras, dando-lhe assim a oportunidade de conhecer o projeto de vida de Jesus que pode tornar a sua vida fecunda e livre. Aceitar de fazer de si mesmo um dom gratuito aos outros é a única condição para receber o Batismo. Trata-se de uma grande reviravolta na vida daquele ser humano. Basta ler o que dizia a lei em vigor: “Quem tiver o seu membro ferido ou mutilado não entrará na comunidade do Senhor” (Dt 23, 2).
Filipe não só lhe abre o acesso à Vida e lhe escancara as portas da Comunidade através do batismo, mas mergulha na água com ele. As diferenças não podem ser motivo de separação e exclusão. Somos todos filhos de Deus, irmãos e irmãs entre nós, livres de todo tipo de escravidão e a salvo de todas as formas de discriminação. Ninguém é melhor do que os outros. Estamos todos imersos na mesma água, lutando com a mesma história de pecado da qual podemos sair juntos para uma nova vida.
O método missionário de Filipe, em suma, dá espaço ao encontro e à atenção com as pessoas. É um tapa moral naqueles que, mesmo se dizendo cristãos, insistem em visões preconceituosas e levantam barreiras que separam no lugar de construir pontes que aproximam e facilitam o encontro das diferenças. O método missionário de Filipe é uma bela provocação para aqueles que insistem em construir planos pastorais que dão demasiada importância a estruturas e organizações que, no final, não servem para o anúncio do Evangelho, mas para alimentar a autoreferencialidade dos organizadores e executores. (Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)