Sudão do Sul: Terra sagrada de Comboni em tempo de pandemia
Antes do confinamento resultante da pandemia do covid-19, os padres Tesfaye e Alcides, respetivamente superior geral e assistente geral dos missionários combonianos em Roma, visitaram o Sudão do Sul, região amplamente conhecida e amada pelo nosso santo pai e fundador, Daniel Comboni.
Pe. Alcides e Pe. Tesfaye em visita à catedral de Wau, Sudão do Sul
Meu sonho: conhecer a missão de Comboni
Um desejo que eu tinha desde que entrei nos combonianos era conhecer a terra onde São Daniel Comboni deu a sua vida para que os africanos se tornassem sujeitos da própria evangelização. Este desejo se realizou quando fizemos a visita à ‘província’ do Sudão do Sul, e uma das primeiras coisas que fizemos foi participar da celebração dos cem anos da presença da Igreja Católica no Sudão do Sul, na diocese de Juba. Pude ver, com alegria, o fruto do trabalho missionário realizado por tantos missionários que, nas pegadas de Comboni, deram a sua vida e hoje continua através do serviço missionário da igreja local.
Viajando pelo interior do país, nas cidades de Wau, Rumbek e nas localidades de Talì, Yirol, Mapourdit, pude ver quanta coisa bonita tem esse país, principalmente o seu povo, as suas várias etnias, cultura, costumes e o que mais me chamou a atenção, foi a acolhida das várias comunidades por onde passamos. Um povo alegre e cheio de vida.
A triste realidade dos refugiados de guerra
Por outro lado, a realidade dos vários anos de guerra tem deixado um rastro de destruição e de pobreza no país, e que hoje ainda continua, mesmo que se tenham tentado vários acordos de paz. No Sudão do Sul, cerca de dois milhões de pessoas são deslocados internos, enquanto no exterior há mais de dois milhões de refugiados sul-sudaneses, principalmente na Etiópia, Sudão e Uganda. A maioria dos refugiados são mulheres e crianças que muitas vezes, chegam fracas e desnutridas. Durante a estação chuvosa, suas necessidades são agravadas em consequência de inundações, escassez de alimentos e doenças. Muitos daqueles que foram forçados a fugir precisam urgentemente de proteção, abrigo e assistência médica. Grande parte do pátio da catedral de Wau está ocupado com as tendas dos deslocados, sem as mínimas condições de salubridade.
Em Juba, visitamos um dos campos de deslocados, 30 mil pessoas, vivendo debaixo das tendas com um calor de 40 graus, onde não há trabalho, falta água, comida… e não podem sair livremente, pois tudo é controlado. Em cinco anos de conflito, iniciado em 2013 com o desentendimento entre o governo e o seu vice, estima-se que este tenha provocado a morte de 400 mil pessoas.
A ação da Igreja católica e de outras organizações no acompanhamento e assistência humanitária, e na assistência religiosa é de grande ajuda para a população.
Depois de tantos anos de evangelização e ações de desenvolvimento, em algumas situações, parece que ainda se vive nos tempos de Comboni. A presença da família comboniana está dando a sua contribuição, mas continua o grande desafio para que o sonho de Comboni, de salvar a África com a África, continue a ser uma realidade para o povo sul-sudanês. Que São Daniel Comboni continue a ser o grande pai, intercedendo para que este país possa concretizar o seu projeto de justiça e de Paz.
Alcides Costa, comboniano em Roma
“Este conflito deve terminar e o mundo deve se reunir para apoiar os milhões que foram forçados a fugir de suas casas no Sudão do Sul”. (Arnauld Akodjenou, Coordenador Regional de Refugiados)
Catedral de Wau, no Sudão do Sul
Fotos: Arquivo Comboniano – Sem Fronteiras