Uma pastoral de escuta, proximidade e acompanhamento
De uma forma simples, quero partilhar algumas considerações fruto de uma experiência pastoral de apenas ano e meio na paróquia de Santo António, Marcos Moura.
Antes de mais, agradeço ao P. Roberto Minora pela sua paciência e incentivo em introduzir-me na Pastoral destas comunidades cristãs que procuramos acompanhar com zelo, amor e compaixão, ao jeito de Jesus. Sabemos muito bem que toda a Pastoral vai beber ao múnus de Cristo, isto é, ela está ligada à missão de Cristo, o Bom Pastor.
Também faço questão de sublinhar que não pretendo comparar estes meus primeiros passos de ação pastoral no nordeste do Brasil com a minha longa experiência pastoral missionária realizada na Zâmbia, entre 1993 a 2005 e 2009 a 2015, pois trata-se de duas realidades históricas bem distintas, como são também as motivações pessoais e o tempo que me foi dado viver esses anos de missão.
A acolhida que recebi por parte das comunidades cristãs foi ferverosa e afetuosa. Fizeram-me sentir parte desta grande família que é o Povo de Deus. Gente simples, respeitosa e guerreira, pois a vida cotidiana é dura para a maior parte das pessoas que moram neste bairro. Porém, a dureza da vida não lhes roubam a alegria de viver e a gentileza no trato com os outros.
Partindo do princípio de que a Pastoral visa fundamentalmente anunciar Cristo ao mundo e colaborar no projecto humanizador do Pai, ela envolve não apenas os pastores mas toda a comunidade cristã. Sempre acreditei no protagonismo comunitário e não individual! Também os ritmos, os métodos, o modo de se fazer as coisas são também diferentes em cada situação histórica onde o Evangelho é anunciado.
Neste breve tempo de ação pastoral que tenho vindo a realizar na paróquia de Marcos Moura, a minha atuação tem sido mais de escuta, proximidade, marcada por uma vertente mais catequética e missionária. Aqui, o nosso anúncio não se dirige a um povo e pessoas que desconhecem a Cristo. Os desafios pastorais apontam mais para uma ação dirigida aos cristãos cuja fé ainda é bastante superficial ou marcadamente de sabor popular. São cristãos que aderiram a Cristo e fazem parte da comunidade cristã, mas cuja fé necessita de ser aprofundada. Mas sentimos também a necessidade de ir à procura da ‘ovelha perdida’! As igrejas evangélicas amontoadas ao longo das ruas com toda a sua gritaria e intenção proselitista podem ‘apanhar’ aqueles cristãos católicos mais desprevenidos a nível de fé.
Aceitando a realidade eclesial onde estamos inseridos, em que as nossas comunidades cristãs são relativamente pequenas, temos procurado ajudar e encorajar os cristãos mais conscientes da sua vocação na Igreja a agir pastoralmente em “chave missionária”, incentivando-os a ter uma presença mais forte nas casas das pessoas em forma de visita planejada ou oração do terço e da Via-Sacra no tempo quaresmal. Aprecio muito os passos que algumas comunidades têm dado nesta direção de ‘sair para a rua’ no sentido de
1 evangelizar, mas ainda há muito que fazer sobretudo incentivar aqueles cristãos mais apáticos para que se envolvam de forma mais comprometida no anúncio do Evangelho.
A ação pastoral envolve, entre outras coisas, o serviço aos necessitados, o estudo bíblico, a dimensão celebrativa que temos procurado promover nas nossas comunidades cristãs. Conscientes de que estamos inseridos numa realidade social bastante pobre, com muitas carências humanas e afetivas, o desafio de uma participação mais generosa por parte das comunidades neste serviço aos mais carenciados é cada vez mais pertinente.
Como paróquia, fazemos semanalmente a distribuição dos pães às famílias mais pobres, a Pastoral da Criança realiza ações de apoio às crianças mais vulneráveis, mas penso que, com maior colaboração de todos, poderíamos alargar a nossa ação através de outras iniciativas de serviço aos necessitados. Creio que o Grupo da Caridade poderia ter uma influência maior neste campo de ação sócio-caritativo. Graças a Deus que no nosso território temos instituições sob a direção das Irmãs da Providência (CEFEC) e dos Combonianos (CEDHOR, PROJETO LEGAL e COOREMM) que dão um apoio extraordinário aos mais desfavorecidos da população.
Sentimos a necessidade de re-ativar as pastorais da Juventude, Familiar e Vocacional. É pena que a maioria dos cristãos não mostram disponibilidade em assumir compromissos dentro da comunidade e, por isso, algumas pastorais vão ficando para trás. Normalmente são sempre as mesmas pessoas que participam de forma mais ativa nas diversas atividades da paróquia. Creio que há um trabalho enorme a fazer no sentido de conscientizar as pessoas a se envolverem mais nos diversos ministérios da comunidade.
Por fim, manifesto um desejo que trago no coração: poder vislumbrar uma igreja diocesana menos clerical e mais pastoral. Não vejo, por exemplo, a nossa Forania a assumir linhas pastorais claras e concretas que nos orientem no nosso trabalho pastoral e nos coloquem em verdadeira sintonia uns com os outros. Corro o risco de estar errado nesta minha afirmação, pois ainda estou aqui há pouco tempo, mas é um sentimento que partilho convosco. Citando as palavras do papa Francisco, tenho a impressão de que a atitude de fundo que mais aflora numa grande parte do nosso clero é de serem “clérigos de Estado” e não “pastores do povo”. É um sinal evidente de que existe ainda alguma resistência em se despojar das seguranças “clericais”.
Coloquei como título desta partilha “Uma pastoral de escuta, proximidade e acompanhamento”, porque esta foi a prática de Jesus como parte da sua pedagogia do caminho em que Ele agia na vida das pessoas sempre a partir das suas situações concretas e existenciais, e em comunhão constante com o Pai que O enviou como Servo de todos. Consciente das minhas limitações, desejo também fazer o mesmo caminho!
Joaquim de Sousa Pereira