“Vede minhas mãos” (Lc 24,35-48)
Um dos sinais para reconhecer a identidade do Ressuscitado são suas mãos (Jo 20,20). Que mãos são estas? Aquelas que realizaram a obra de amor do Pai no mundo e deram início à construção do mundo novo. São as mãos que cumpriram prodígios, que foram estendidas aos necessitados, que foram utilizadas para libertar os oprimidos, devolver a vista aos cegos, abrir os ouvidos aos ensurdecidos e dar voz aos emudecidos. São as mãos que tocaram e curaram os leprosos, que cuidaram das feridas que laceravam o corpo do homem caído na beira da estrada, que acolheram os pequenos, que pegaram no colo a ovelha perdida, que abraçaram o filho pródigo na volta para casa, que levantaram a sogra de Pedro e reergueram a mulher flagrada em adultério, que lavaram os pés dos discípulos partiram o pão durante a Última Ceia. São as mãos desarmadas que só impugnaram o chicote para expulsar do templo aqueles que o tinham transformado em covil de ladrões. São as mãos que foram amarradas por mãos armadas, violentas, utilizadas para roubar e matar, para arrancar direitos e acumular fortunas, para humilhar e despojar as outras pessoas de sua dignidade, para travar o mundo novo feito de amor, serviço, defesa e promoção da vida. São as mãos que se deixaram pregar na Cruz para salvar até aqueles que usaram as mãos para matá-lo. São as mãos que Deus desamarrou dos laços da morte e que continuam agindo no mundo através das pessoas que, acolhendo o dom do Espírito do Ressuscitado, tomam a firme decisão de continuar a Sua obra de amor no mundo.
Nas mãos de Jesus está gravada uma história de Amor, prevista nas Escrituras e, que apesar do sofrimento, desemboca na vitória da Vita através de Sua Ressurreição. É evidente Suas mãos agem deste jeito pois Seu coração está em sintonia com o Pai. A partir da Páscoa a responsabilidade de continuar a Sua obra passa para as nossas mãos. Compete a nós a missão de levar a cumprimento a obra que Ele começou realizando as mesmas obras que Ele fez quando passou no meio de nós, usando as nossas mãos para semear vida, levantar os/as caídos/as, sustentar os/as fracos/as, arrancar as vendas que cegam e obcecam, desamarrar os oprimidos, abrir portas, construir pontes, implantar a justiça e a paz, varrendo definitivamente da face da terra aquele “mundo” em que se usam as mãos para praticar o mal. Trata de uma autêntica operação “mãos limpas” que não é contaminada por interesses sujos, mas é lavada no sangue do Cordeiro, inspirada no Seu amor sem limites. “Quem subirá ao monte do SENHOR ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá a bênção do SENHOR e a justiça do Deus da sua salvação” (Sal 24). Não abramos mão de nosso compromisso de ajudar Deus a construir Seu Reino. O mundo tem o direito de ver nas obras de nossas mãos o amor de Deus acontecendo.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)