Você é igual a nós: Irmão entre irmãos!
A missão é para mim um encontro, uma busca de pontos de contato, uma comunhão de emoções e experiências. Somos seres constituídos por uma série de relações que nos tornam mais humanos e saudáveis. São Daniel Comboni queria que os seus seguidores fossem “santos e capazes”. Em 2013 fui enviado para Uganda, para a região de Karamoja, onde entendi o que esse “encontro” significava para mim. Até 2019, enquanto organizava a farmácia do Hospital Matany, vi como era desafiador estar próximo e disponível para os outros. Descobri, em mim e nos outros, a necessidade de liberdade e contato com nossa humanidade e nossa própria história, o que realmente nos move e as feridas que carregamos.
O desafio que o “outro” representou para mim me levou a buscar uma formação de acompanhamento para facilitar o crescimento humano e espiritual. O crescimento pela dor nos abre para realidades mais profundas e, ao aceitá-la, somos capazes de descobrir potencialidades e energias “capazes de mover montanhas”. Não há ressurreição sem cruz.
Estou escrevendo agora desde Kalongo. Ser irmão é a maior riqueza que posso oferecer. É uma realidade que vai além da formação profissional, embora esta seja uma dimensão essencial para o cumprimento da minha vocação de santidade e competência. Lembro o testemunho de um amigo de Matany. Ele veio me ver e disse que queria falar comigo. Sugeri que falasse com o padre, mas ele disse: “Quero falar com você. Você é diferente. Você é um como nós. Irmão entre irmãos”. Esta é a proximidade que esta vocação oferece e exige: ser irmão do outro.
Em Kalongo, sou mais uma “pedra” no prédio. Sou irmão de uma imensa família fraterna, onde todos contribuem com seus dons para o estabelecimento do Reino de Deus. Procuro escutar e seguir o Mestre de Nazaré, sabendo que sou chamado a “carregar dia após dia a nossa cruz” (cf. Lc 9,23). Todos temos consciência das dificuldades em nossas vidas (individualismo, alterações climáticas, conflitos, guerras…), mas todos somos desafiados a superar conflitos. Quando posso viver conscientemente no presente, sou um presente para os outros e Jesus se torna presente em nós. Não é tanto “o que fazemos” que transforma a vida dos outros, mas “o que somos”, e a maneira como vivemos e expressamos nosso verdadeiro ser.
No primeiro dia de estágio na unidade de cuidados paliativos, uma senhora idosa, disse-me: “vou morrer”. Ela e eu sabíamos que era verdade. Mas naqueles dias fui uma presença amiga para ela, e foi um grande presente para mim: ela me ensinou a ter esperança, mesmo quando a dor me dilacera. Noutra ocasião, uma freira comboniana, olhando-me nos olhos, disse-me: «Irmão, lembre que sua vida e vocação são muito mais importantes do que o serviço que você oferece».
Somos chamados a ser “vida em abundância” para os outros. Foi isso que Jesus fez: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Das terras do Uganda, peço que rezem por mim e por este povo.
José Macedo, comboniano no Uganda