Você é o que você pensa?
Diante da diversidade da nossa sociedade, como é possível determinar quem é capaz e quem não é capaz?
Dia desses estava percorrendo as novidades no Facebook e me deparo com a notícia sobre Tiago Ricardo Ferreira, prefeito de Campina do Monte Alegre, no interior de SP. É surpreendente ele se colocar como candidato e ainda mais surpreendente é a população reconhecê-lo e elegê-lo prefeito. Esta atitude demonstra que a paralisia cerebral não é um obstáculo, não é um limitador.
A saúde mental foi tema de muitas conversas e discussões, em especial, durante e após o período mais grave da pandemia do COVID 19.
Enxergar a pessoa além da sua aparência é algo que desafia nossa capacidade de conviver com as diferenças e com as minorias.
O capacitismo está sendo desafiado e rejeitado. As limitações causadas pela síndrome de down, pelo altismo e por sequelas decorrentes de doenças ou acidentes, estão sendo revistas e recebemos notícias de estabelecimentos conduzidos por portadores de síndrome de down e outros por pessoas com limitações cognitivas.
Diante dos desafios que passamos, como estabelecer um padrão a partir do meu eu, do meu conjunto de conhecimento e afirmações?
As questões envolvendo a saúde mental não estão tão evidentes na face das pessoas, não são percebidas como um braço quebrado ou uma perna amputada. Talvez por este motivo não consigamos compreender a realidade daqueles que são acometidos pelos muitos espectros ou condições mentais.
Se defendemos a democracia, somos desafiados a rever nossas afirmações quanto a capacidade dos portadores de deficiência mental, assim como, nos posicionarmos de forma mais contributiva com aqueles que estão passando por algum distúrbio mental.
No entanto, nesta mesma realidade nos deparamos com um grande número de pessoas, até então consideradas normais e não portadoras de deficiência mental, que fazem uso de medicamentos psicotrópicos sem nenhum acompanhamento médico, apenas por considerar que estes medicamentos lhe tragam uma melhor condição mental. Seja para dormir, ou para manter-se acordado ou ainda mais grave, para conseguir passar por situações adversas.
É alarmante a necessidade de voltarmos para estes dois grupos: aqueles que realmente são portadores de uma deficiência mental e aqueles que fazem uso de psicotrópicos de forma descontrolada.
Cuidemos de nossa capacidade cognitiva e cuidemos para não engrossarmos a fila daqueles que não são capazes de reconhecer as capacidades daqueles que julgamos incapazes. Talvez sejamos nós os incapazes de viver nesta sociedade plural e diversa.
Por Tranquilo Dias,leigo missionário comboniano
Foto: Confederação Nacional de Municípios