Sonhos e compromissos a partir do XV Encontro de Pastoral Afro-Americana e Caribenha (EPA)
O XV Encontro de Pastoral Afro-Americana e Caribenha (EPA), reuniu cerca de 170 participantes vindo de diferentes países como Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, Honduras, México, Panamá e Peru. São leigos, leigas, religiosos e religiosas, sacerdotes religiosos e diocesanos, bispos que se reuniram na Diocese de Puerto Escondido, México, de 16 a 20 de outubro de 2022, para compartilhar seus sonhos pastorais e sociais em chave sinodal.
Eis alguns sonhos e comprometimentos do encontro:
Reconhecemos que a Igreja é o novo Povo de Deus, nascido da Nova Aliança, selado com o sangue de Cristo (Concílio Vaticano II). Uma cidade de “todos os irmãos”, onde se cultiva o respeito, se valoriza a igualdade na dignidade e se valoriza a riqueza da diversidade. No entanto, na Igreja e na sociedade, quando falamos de afro-americanos, geralmente somos colocados atrás de outros grupos e povos.
Devemos trabalhar para descolonizar as mentes e saberes dos agentes de pastoral na Igreja; recuperar a memória histórica; fortalecer espaços e encontros para enriquecer as estruturas pastorais com as contribuições dos valores e da espiritualidade afro.
Sonhamos que os afro-americanos surjam na Igreja e na sociedade; onde seus direitos individuais e coletivos, sua catolicidade a partir de sua visão de mundo, seus valores, suas diversas identidades são visíveis e reconhecidos.
Sonhamos com uma Igreja que valorize o papel e a liderança das mulheres afrodescendentes na vida da Igreja e na construção das Américas; ela se apega à esperança que derrota a morte; na sua forma alegre de anunciar ao mundo que Cristo está vivo e ressuscitou. O Papa Francisco alertou que as mulheres: “não podem ser servas de nosso clericalismo recalcitrante”.
Parafraseando Martin Luther King, nós, afro-americanos e afrodescendentes, temos o grande objetivo da igualdade e da unidade. Sonhamos que, mesmo sufocados pelo calor da injustiça e da opressão, transformaremos essa realidade em um oásis de liberdade e justiça, confiando na força do Espírito Santo, que nos faz caminhar, resistir e nos aventurar na luta por uma vida melhor e dignidade para todos.
O povo afro-americano e caribenho é chamado hoje a ser uma presença profética na igreja e na sociedade. Esta profecia assume com estas características:
Vemos a realidade com os olhos de Deus, ou seja, na perspectiva dos oprimidos: continuamos a reconhecer o racismo estrutural e suas consequências; a mentalidade colonialista na Igreja e na sociedade; a marginalização das mulheres afrodescendentes; a invisibilidade do nosso povo afro-americano e caribenho; e clericalismo.
Interpretamos os sinais da presença do Espírito, que move a resiliência dos povos afro-americanos e caribenhos: seu caminho de resistência no processo de reconhecimento e visibilidade em nível social e político, a capacidade de autodeterminação dos afro-americanos e mulheres afrodescendentes; os avanços no processo de conversão pastoral que está ocorrendo na Igreja a partir da sinodalidade; e os caminhos de inclusão que se desenvolvem na sociedade.
Transformamos a dor e o sofrimento pela injustiça vivida, numa força que nos impulsiona a caminhar com o coração reconciliado rumo a uma “terra sem males”, para poder “viver bem”, com todos os povos da terra.
Caminhamos juntos, na sinodalidade, que em nossa visão de mundo é viver o Espírito do Ubuntu: como nos lembra o Papa Francisco, ouvindo o clamor da terra e dos povos, “ou todos nos salvamos ou ninguém se salva”. Temos que nos ouvir, nos entender e nos incomodar, diante dos desafios apresentados pelas realidades dos povos afro-americanos e caribenhos.
Com toda a Igreja, inspirados na Exortação do Papa Francisco “Querida Amazônia”, na Encíclica Fratelli Tutti e no sonho de uma Igreja sinodal (comunhão-participação-missão) com os povos afro-americanos e caribenhos, nos comprometemos a:
- Aprofundar a cultura, a história e a espiritualidade dos povos afrodescendentes para identificar suas contribuições e colocá-las em diálogo com a Igreja, para que sejam incorporadas como eixo transversal na ação pastoral, na formação dos seminaristas, na catequese.
- Fortalecer a Secretaria de Pastoral Afro-Americana e Caribenha (SEPAC), para que possa acompanhar, estimular e promover a inculturação com os povos afrodescendentes nas conferências episcopais.
- Tornar visível a pastoral afro nos organogramas eclesiais, no CELAM, na CLAR, na CRC, nas Conferências Episcopais, nas Dioceses, impulsionando-a com pessoal e orçamentos específicos.
• Tornar visível a liderança das mulheres negras, com sua nomeação para cargos de decisão na estrutura eclesiástica. - Promover encontros intergeracionais entre adultos, idosos, com crianças e jovens negros.
- Unir-se às redes de defesa da Ecologia Integral (REPAM, REMAM, Iglesia y Mineria, RENAPE) de nossa casa comum e em defesa de nossos territórios ancestrais.
- Caminhar de mãos dadas, em espírito de sinodalidade, com os movimentos sociais afrodescendentes do continente latino-americano e caribenho.