Zé Aparecido: Auxílio à vida, como fez o Pe. Ezequiel Ramin
No 7º dia da passagem/Páscoa do Zé Aparecido e de seu encontro no abraço de Deus, vamos conhecer um pouco de sua vida e sonhos. Ele dedicou sua vida ao amor e auxílio a todas as pessoas e famílias, que lutavam pelo direito à vida, à terra, ao pão e à educação. Em tempo de pandemia, em que a vida dos povos indígenas é ameaçada, o compromisso do Zé, juntamente com o sonho do Pe. Ezequiel Ramin, pode ser inspirador… Confira a seguir.
O Zé Aparecido (esquerda) com sua equipe do Projeto Ezequiel Ramin, em Ji Paraná-RO
“Se minha vida lhe pertence, também lhe pertence minha morte.”
(Ezequiel Ramin).
Esta frase dita pelo Pe Ezequiel Ramin tem, de fato, um sentido profundamente missionário, de total entrega a Deus e à missão.
1. “Se minha vida lhe pertence…”
Estas palavras expressam sua vida encarnada e doada aos mais pobres dos pobres. Primeiro, é importante ter bem claro que esta frase não tem somente um sentido físico pessoal de vida e morte mas, sobretudo, de VOCAÇÃO e MISSÃO, em sentido amplo. De fato, sua vida de consagrado e ordenado já não é apenas propriedade sua, mas da Igreja e com esta, fazendo-se presente em todo o mundo, intimamente ligada ao coração de Cristo, cabeça da mesma Igreja. Partindo daqui, podemos entender o que o Pe. Ezequiel nos quer ensinar com esta afirmação de pertença: vida, morte, povo, Amazônia. Com isso, entendemos também, a paixão de um coração missionário, que ao encarnar-se numa realidade onde a vida está ameaçada, faz um pacto com as principais vítimas do sistema. E, tomado de grande amor e (com)paixão é capaz de ir até às últimas consequências, doando sua vida. E para que possamos entender o sentido das palavras e da frase como um todo, se faz necessário “comungar” da vida, vocação, paixão e missão deste jovem missionário e mártir. Eis aqui uma bonita catequese a partir dessa afirmação e do testemunho deixado por ele.
Pe. Ezequiel Ramin, bem aventurado, em Abril de 2016. Diocese de Ji Paraná-RO
2. “…também lhe pertence minha morte”
A segunda parte da frase “…também lhe pertence minha morte” exige uma cuidadosa reflexão a fim de entendermos o contexto em que ela foi dita, mas também nos cabe atualizá-la. Se pensarmos na morte, como fim, tudo estaria acabado naquela manhã do dia de 24 de julho de 1985. Mas não foi isso que o Pe Ezequiel quis nos deixar como testemunho missionário e profético. Sua morte precisa ser interpretada à luz de uma análise que possibilita VER o contexto do martírio: Amazônia; anos 80; regime político de forte repressão pela ditadura militar; intenso fluxo migratório procedente de todas regiões do Brasil e conflitos armados em diversas partes da Rondônia. Dentro desse cenário estavam as vítimas esquecidas e invisíveis, como reféns dos ‘lobos’. E por força do Espírito, autor e protagonista da missão, os profetas se compadecem das vítimas e estas transformam-se em causa, gerando opção preferencial e evangélica, que naquela época era opção clara na diocese de Ji-Paraná, liderada pelo então pastor, dom Antonio Possamai. Aí está, portanto, a interpretação: minha morte é minha CAUSA. Vejam, a “morte” já não é mais morte. Ela é transformada em causa, que é motivo de vida, missão e entrega… Se torna força de ressurreição!
O Zé Aparecido cantor fiel na Romaria do Pe. Ezequiel Ramin
3. Legado do Pe. Ezequiel e do Zé Aparecido
Passados 35 anos, é possível experimentar um sentimento e ardor missionário semelhante ao que moveu o Pe Ezequiel, o qual foi profundamente tomado no coração e em todo o seu ser: as razões evangélicas de sua entrega. A vida de Ezequiel pertence, de fato, a todas as pessoas, às quais ele se doou pessoalmente: famílias sem terra ameaçadas de expulsão e morte; Comunidades Indígenas, igualmente ameaçadas; e a Amazônia como um todo. Mas pertence igualmente a todas e todos nós, às Comunidades e Organizações sociais que comungam a fé no Crucificado-Ressuscitado e n’Ele fazem memória dando testemunho de fé na realidade concreta. Também, consideramos elementos de pertença à sua vida os sinais de libertação que surgiram, a partir do sangue derramado: Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Escolas Famílias Agrícolas (EFAs), Projeto/Instituto Padre Ezequiel Ramin (IPER), Associações, Acampamentos, Assentamentos, etc. São sinais proféticos que perpetuam o milagre das reais transformações sociais, incomodando as forças contrárias que ameaçam o bem viver. Pe. Ezequiel, sua vida é nossa vida. Sua causa é nossa causa!
A opção pelos pobres e pela Amazônia é memória martirial e Pascal ontem, hoje e sempre!
O Zé Aparecido deixa um vazio que ninguém preenche
José Aparecido de Oliveira,
Instituto Padre Ezequiel Ramin – IPER
Rondônia